"Descontentamento não pode ser calado." Maquinistas alertam Governo para riscos de alterar lei da greve
Em declarações à TSF, o presidente do sindicato dos maquinistas, António Domingues, avisa que "o descontentamento dos trabalhadores pode resvalar para outras situações"
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O presidente do sindicato dos maquinistas, António Domingues, critica a ideia de Luís Montenegro e avisa o primeiro-ministro para os riscos de alterar a lei da greve. A sugestão do chefe de Governo foi feita, esta quinta-feira, na sequência do impacto da greve dos trabalhadores da CP.
"Isto, no fundo, é um retrocesso ao 24 de Abril de 1974. Há uma coisa que nem um ex-primeiro-ministro, nem nenhum primeiro-ministro pode calar: é o descontentamento dos trabalhadores. Ou descontentamento dos trabalhadores está canalizado para o movimento sindical, que cumpre regras instituídas, cumpre a lei, ou se não for canalizado para aí, tende a ser canalizado para movimentos inorgânicos, que é o que acontece, muitas vezes, noutros países", explica à TSF António Domingues, sublinhando que "o descontentamento dos trabalhadores pode resvalar para outras situações".
"Temos situações concretas: há profissionais neste país que não podem fazer greve e pela facto não fazerem greve, por vezes, tendem a fazer manifestações que resvalam para a ilegalidade", refere.
Esta sexta-feira, os comboios estão parados pelo terceiro dia consecutivo. No entanto, a partir deste sábado, a paralisação já não terá tanto impacto.
"Hoje [sexta-feira], a paralisação é total, há uma adesão massiva dos nossos associados. A partir de amanhã [sábado], a greve será apenas ao trabalho suplementar, a paralisação será mais residual, mais pontual, até dia 14 haverá comboios, com certeza", acrescenta.
Vários sindicatos de trabalhadores da CP estiveram em greve, que parou a circulação na quarta e quinta-feira.
As greves de quarta e quinta-feira foram convocadas pela Associação Sindical das Chefias Intermédias de Exploração Ferroviária (ASCEF), a Associação Sindical Independente dos Ferroviários da Carreira Comercial (ASSIFECO), a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (FECTRANS), o Sindicato Nacional dos Transportes Comunicações e Obras Públicas (FENTCOP), o Sindicato Nacional dos Ferroviários do Movimento e Afins (SINAFE), o Sindicato Nacional Democrático da Ferrovia (SINDEFER), o Sindicato Independente dos Trabalhadores Ferroviários das Infraestruturas e Afins (SINFA), o Sindicato Independente Nacional dos Ferroviários (SINFB), o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Transportes e Indústria (SINTTI), o Sindicato Independente dos Operacionais Ferroviários e Afins (SIOFA), o Sindical Nacional de Quadros Técnicos (SNAQ), o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário (SNTSF), o Sindicato dos Transportes Ferroviários (STF) e o Sindicato dos Trabalhadores do Metro e Ferroviários (STMEFE).
A esta paralisação juntou-se na quinta-feira o Sindicato dos Maquinistas (SMAQ), o único sindicato que está hoje em greve.
O Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI), dos revisores e trabalhadores de bilheteiras convocou, por sua vez, uma greve parcial entre as 05h00 e as 08h30 de domingo a quarta-feira (dias 11 e 14 de maio). No domingo e na quarta-feira a greve só afeta os comboios de longo curso.
Para esta greve foram decretados 25% de serviços mínimos.
Esta paralisação foi convocada contra a imposição de aumentos salariais “que não repõem o poder de compra”, pela “negociação coletiva de aumentos salariais dignos” e pela “implementação do acordo de reestruturação das tabelas salariais, nos termos em que foi negociado e acordado”, segundo os sindicatos.