"Desleixo lamentável". Marcelo e Marisa Matias com fortes críticas no caso do procurador José Guerra
No primeiro debate presidencial, Marcelo Rebelo de Sousa fala em "desleixo" e em "pontos lamentáveis" no caso da nomeação do procurador europeu José Guerra. Marisa Matias sublinha a gravidade do tema.
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"Pode não ser um desleixo decisivo, mas que é lamentável, é lamentável". Durante o primeiro frente-a-frente a caminho das presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa não poupa nas palavras a propósito do caso da nomeação do procurador europeu José Guerra, algo que ganha especial relevância política uma vez que é também a primeira vez que o atual Presidente da República fala sobre o assunto.
Apesar de estar na RTP na condição de candidato, Marcelo Rebelo de Sousa elenca os pontos que considera ser lamentáveis. "Primeiro, atribuir uma qualidade que a pessoa não tem, é como dizer que é professor catedrático quando é apenas doutorado; em segundo lugar, dizer que dirigiu uma determinada investigação, no caso da UGT, quando representou em tribunal, não dirigiu, é diferente; terceiro, e que o próprio veio reconhecer, que não liderou a equipa que investigou a Junta Autónoma das Estradas, ele próprio diz", destaca.
Questionando "como é que é possível aparecer no currículo essa realidade", Marcelo Rebelo de Sousa crítica ainda o modo como o processo se desenrolou. "Como é que é possível haver uma nota num tema sensível, bem sei que é uma nota interna, mas que é enviada de uma Direção-Geral para uma embaixada? Era uma nota enviada depois de um parecer de um conjunto de especialistas europeus que se tinham inclinado para outra solução", nota o Presidente da República.
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"Eu quero ainda mais informação, mas o que pude apurar nestas 48 horas foi que há aqui um desleixo e é um desleixo numa matéria que tem projeção internacional. É verdade que é um desleixo numa nota interna, pode não ser um desleixo decisivo naquilo que foi a posição de quem acabou por optar, mas que é lamentável, é lamentável", considera Marcelo Rebelo de Sousa que diz não ter ouvido a entrevista da ministra da Justiça à RTP.
Neste mesmo debate, Marisa Matias sublinha que também não ouviu as explicações da governante, mas não deixa de considerar que a situação "é muito grave". "Não consigo encontrar nenhuma razão para se mentir em currículos, a única razão é para ser apanhado porque inevitavelmente é o que vai acontecer", considera a candidata a Belém sublinhando que devem ser exigidos esclarecimentos
Estado de emergência prorrogado por 8 dias
Ainda que na posição de candidato, Marcelo Rebelo de Sousa anuncia que o Estado de emergência vai ser prorrogado por mais oito dias porque "não há dados suficientes relativos ao período de Natal".
Notando que a informação é "contraditória", Marcelo destaca que "houve pontes consecutivas e não houve testes" e que só vai ser possível "ter uma reunião com os especialistas no dia 12 de janeiro". Por isso mesmo, e porque "não é possível criar um vazio" legal, Marcelo inclina-se para propor um Estado de Emergência mais curto desta vez.
Para Marisa Matias, mais do que a duração do Estado de emergência, há uma preocupação com aqueles que mais desprotegidos têm vindo a ficar com os sucessivos Estados de emergência.
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"Registo que tem havido um pedido sistemático às pessoas para cumprir rigorosamente com medidas avançadas pelo Estado de emergência de forma a proteger a sociedade e esse pedido não é acompanhado pelo nível de proteção social que devia existir", destaca a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda.
Marisa Matias aproveita a ocasião para colocar o tema laboral no debate, notando que "as primeiras pessoas a ficar sem chão foram as pessoas precárias" e que durante este tempo não existiram "medidas à altura para reverter a lei laboral introduzida pela troika".
"Neste mandato, inclusivamente com o contributo do Presidente, agravámos situações de precariedade ao alargar o período experimental de 90 para 180 dias", destaca Marisa Matias, que no debate também fez questão de marcar diferenças em relação a Marcelo na saúde, nomeadamente o posicionamento face ao setor privado.
Marcelo e Marisa acreditam na estabilidade para a legislatura
Se há coisa em que ambos os candidatos a Belém concordam é na necessidade de estabilidade até ao final da legislatura e ambos até notam que há espaço para entendimentos à esquerda nos Orçamentos para 2022 e 2023.
Começando por realçar que não tinha razões pera vetar o atual Orçamento se fosse Presidente da República, Marisa Matias diz que "há possibilidade para fazer entendimentos para futuro e criar a estabilidade que necessitamos, respondendo de forma real e eficaz aos problemas".
Já Marcelo Rebelo de Sousa concorda com a ideia de que "entendimentos são fundamentais", expressa "pena que não fosse possível no Orçamento para este ano que houvesse uma base de sustentação mais alargada", mas acredita que esse entendimento à esquerda poderá acontecer nos próximos dois Orçamentos do Estado. Até porque, diz Marcelo, "é importante que este governo dure até 2023".
Num debate que decorreu com um tom cordial do início ao fim, Marcelo não excluiu a possibilidade de votar em Marisa Matias se ele não fosse candidato, preferiu o politicamente correto de dizer que precisava de saber quem seriam os outros candidatos. Já a eurodeputada, não o expressa, mas deixa subentendido que só votaria em Marcelo Rebelo de Sousa caso o oponente fosse André Ventura.