"Desmotivação" não pode ser "confundida" com "fruta podre". Sindicatos da polícia pedem cautela a Margarida Blasco
No Fórum TSF, representantes das forças de segurança rejeitam ideia de que extremismos reinam entre os seus membros: "Estas situações não existem na proporção daquilo que é, às vezes, comentado." Associação SOS Racismo não acredita que formação resolverá o problema
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Em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, assegurou estar a trabalhar no combate aos crimes de ódio e aos movimentos extremistas dentro das forças de segurança. Esta garantia de tolerância zero perante os radicalismos não tranquiliza a associação SOS Racismo. O fundador e dirigente do movimento, José Falcão, afirmou no Fórum TSF que já viu promessas idênticas no passado que "em absolutamente nada" resultaram.
O caminho é a "formação", enfatizou Margarida Blasco na mesma entrevista, acrescentando que é esta filtragem que "vai retirar a fruta podre do grande cesto" que são os agentes de autoridade.
No entender de José Falcão, a solução não é assim tão linear, pois "o problema do racismo é estrutural [ao ponto] que não admite, por exemplo, a alteração dos currículos escolares". Criticou também a "atitude dos serviços de legalização dos imigrantes": "Enquanto eles não têm os papéis, quem está a ganhar não é sequer o Estado português, nem nós, são os patrões, porque não pagam os impostos relacionados com a existência desses trabalhadores que são, de facto, quase escravos."
Por sua vez, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Santos, pediu cautela à governante, referindo que "não pode exacerbar aquilo que são as suas funções e as suas competências". O sindicalista "quer, sim," é que "não se confunda" movimentos extremistas, "que não podem ser permitidos", com "o estado de espírito de desmotivação" na polícia.
Na Guarda Nacional Republicana, não existe qualquer tolerância para comportamentos racistas. Quem o afiançou foi o vice-presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, José Miguel. Assinalou igualmente que há exageros nos relatos: "Estas situações não existem na proporção daquilo que é, às vezes, comentado."
"As forças de segurança existem há anos, se estarão um bocadinho mais radicais, não acredito. É lógico que há pensamentos mais de direita, mais de esquerda, mais do centro, somos frutos da sociedade", sublinhou Carlos Torres. O presidente do Sindicato Independente de Agentes de Polícia indicou ainda que quase não houve condenações de agentes por crimes de ódio. Caso sejam "apanhados na malha", "terão de ser, numa primeira fase, inquiridos; depois, se forem condenados, devem ser expulsos ou deve-se abrir um processo disciplinar".
Para Bruno Pereira, do Sindicato Nacional de Oficiais da Polícia, é claro: "Promover, instigar ou militar em torno de comportamentos, ou veiculações radicais, ou discriminatórias, é merecedor de tutela penal." E mencionou também: "Obviamente preocupa-nos quando os identificamos internamente. Ainda para mais, quando estamos a falar de profissionais dos quais se espera comportamentos com elevados padrões de ética. A existirem, têm de ser erradicados."
Ciente disto, garantiu que "não era necessário" a ministra falar em tolerância zero, os polícias têm já esse "dever qualificado": "Temo-lo sabido fazer e iremos continuar a fazê-lo com a maior mestria e com a maior proatividade possível."

