A hora da extração da lotaria é acompanhada por muita gente sobretudo através da televisão. Um dos momentos altos é quando o pregoeiro entoa o valor do prémio final.
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António Carloto é pregoeiro desde 1989. "A Lotaria abriu concurso por altura da Lotaria Europeia. A primeira que correu cá. E eu concorri". Concorreu e ficou, passando a ser uma das vozes que anunciam os prémios esperados por muitos. Apanhou até a transição do escudo para o euro. "Havia sempre a tentação de cantar em contos. Aquilo era uma chatice", recorda.
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Os pregoeiros recebem treinos de dicção e de projeção de voz porque é preciso que saia tudo certo e com o destaque que um prémio da lotaria merece. "Vinte e cinco miiiiil euros! As pessoas têm que sentir que lhes está a sair mesmo algo de muito bom. E, por isso, temos de tentar incutir naquelas pessoas que nos estão a ver para que eles tenham, de facto, consciência e presença de que é um prémio bom, que é algo que lhes vai sair".
A extração pode até parecer um momento simples mas há muitos detalhes a ter em conta. "Há uma luzinha que acende, que dá ordem para nós retirarmos a bola das esferas e depois, numa sequência encadeada das dezena de milhar, do milhar, da centena até chegar aquele que está no pregão total e vai tirando. Tudo aquilo tem um encadeamento certo e só com alguma prática é que se obtém", explica.
Esferas com quatro gramas. Nada mais, nada menos
Os pregoeiros dos jogos da sorte são funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Cerca de 90 pessoas asseguram todo o trabalho ligado à extração mas a grande maioria tem também outras funções na instituição. "Têm o seu trabalho do dia-a-dia e, adicionalmente, colaboram na execução destes trabalhos. [Têm] funções que começam pelo júri, secretárias do júri, operadores de esferas, todas essas funções de apoio e suporte", detalha João Bela diretor do núcleo de extrações e concurso.
O responsável pela organização e execução das extrações explica que, para garantir que os sorteios decorrem de acordo com o regulamento publicado em Diário da República, todo o equipamento tem de estar ajustado. "Isso passa também pela certificação dos próprios equipamentos. E quando se fala dos equipamentos, não é só as máquinas que fazem os sorteios mas as próprias bolas têm que estar calibradas e certificadas. Cada esfera tem de ter quatro gramas exatamente".
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Todos os sorteios são atos públicos, incluindo o sorteio do milhão que, apesar de ser um sistema digital, também tem as portas abertas ao público. Os pregoeiros agradecem a assistência. "Quando é uma sala vazia é mais frio. Não é a mesma coisa. Fazer uma extração com público presente e fazer uma extração sem ninguém não é igual", conta.
António Carloto garante que há público fiel à extração da lotaria. "Havia pessoas que iam lá até que puderam, até que a saúde lhes permitiu. E ainda há alguns que lá vão, que a gente já os conhece todas as semanas, eles já nos conhecem a nós. Já lá vão há tantos anos que aquela quinta-feira parece que aquilo para eles é um ritual".
Sorteios inesperados
As rodas começam a girar, as esferas com números começam a dançar e cruzam-se os dedos para que a cautela seja a premiada. Está no ar a extração da lotaria. Quem assiste ao vivo pode até ser informado em primeira mão que tem a tão esperada cautela premiada. "Aconteceu há coisa de dois, três anos e foi numa lotaria do Natal. A senhora gritou! Foi muito giro".
António Carloto garante que há sempre episódios caricatos para contar. "Foi recentemente na RTP que, numa máquina, me caiu a bola. Caiu-me a bola da mão em direto! E olhe, acontece. Aquilo é uma bola muito pequenina, muito levezinha, não está preparada para ser manuseada e olhe, caiu. Tive que ir apanhá-la. Em direto!".