Dezenas de pessoas protestam em Lisboa contra especulação imobiliária e aumento dos juros
"Sobe, sobe a prestação, o salário é que não", ouviu-se na manifestação.
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Cerca de três dezenas de pessoas concentraram-se esta quinta-feira junto ao Ministério da Habitação, em Lisboa, em protesto contra a especulação imobiliária e o aumento das taxas de juro pelo Banco Central Europeu.
A ação foi convocada pelo movimento Porta a Porta - Casa para Todos e decorreu entre as 12h30 e as 14h00.
Munidos de tarjas, os cerca de 30 manifestantes gritaram palavras de ordem contra a especulação imobiliária e o aumento das taxas de juro, exigindo "casas para viver".
"Sobe, sobe a prestação, o salário é que não", foi uma das frases que se ouviu.
Em declaração à agência Lusa, o porta-voz do movimento Porta a Porta - Casa para Todos, André Escobar, explicou que o programa Mais Habitação, aprovado há uma semana no parlamento, é "claramente insuficiente para responder aos problemas habitacionais.
"São altamente insuficientes e não somos só nós que o dizemos. O próprio ministro das Finanças, esta semana, já veio dizer que eram precisas mais medidas. É de estranhar que uma semana depois da aprovação do Mais Habitação o próprio Governo já venha dizer que as medidas são insuficientes", apontou.
No entendimento de André Escobar, o Governo terá de "tocar nos lucros da banca" para que as prestações das casas e as rendas possam baixar.
"Hoje, este aumento dos juros por parte do BCE (Banco Central Europeu) é só mais uma peça nesse caminho. Os juros aumentam, as prestações aumentam, os salários continuam estagnados e, nessa medida, é preciso romper o ciclo", defendeu.
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje uma nova subida das três taxas de juro diretoras em 25 pontos base, tal como na reunião anterior, igualando a taxa dos depósitos mais elevada de sempre.
Presente no protesto, o jovem Pedro Fialho, estudante deslocado de Évora, queixou-se das dificuldades que os jovens estão a ter para pagar uma renda de uma casa ou de um quarto.
"Os estudantes deslocados têm um problema muito grave para terem um sítio onde viver aqui em Lisboa. Mais de metade desses estudantes não tem lugar numa cama numa residência pública", criticou.
Já Elisabete Glória, doente oncológica, contou que o banco decidiu subir-lhe a prestação da casa, colocando-a numa situação "incomportável".
"Temos uma incapacidade que faz com que muitas vezes não se possa ir trabalhar. Isso, obviamente, reflete-se nos ordenados. No entanto, não se reflete a nível das taxas de juro para estes doentes", apontou.
Presente no protesto esteve também o deputado do PCP Bruno Dias, para manifestar solidariedade com quem não consegue uma casa para habitar.
"Esta é uma causa justa. As pessoas têm a força da razão para chamar a atenção para políticas e opções políticas que, de facto, respondam a este problema gritante que está a afetar milhares de pessoas, quer no que diz respeito ao arrendamento, quer no que diz respeito à prestação da casa que pagamos ao banco", atestou.