A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar considera que os médicos não podem correr riscos, e a Comissão dos Utentes de Saúde do concelho do Seixal mostra-se preocupada com o encerramento da urgência pediátrica do Garcia de Orta durante a noite.
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A ministra Marta Temido anunciou que os centros de saúde da Rainha Dona Leonor, em Almada, e de Amora, no Seixal, vão prolongar o horário até à meia-noite nos dias úteis e até às 22h00 aos fins de semana. Esta medida é uma forma de compensar o acréscimo de trabalho que os médicos vão ter, em consequência do encerramento da urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta a partir de segunda-feira.
Ouvida pela TSF, Graça Freitas deixou uma mensagem de confiança quanto a esta sobrecarga nos serviços da região. Apesar do encerramento da urgência pediátrica do Garcia de Orta nos períodos noturnos, Graça Freitas acredita que o sistema tem capacidade de resposta.
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A diretora-geral da Saúde admite que poderá haver um reforço das equipas a trabalhar durante a noite, e remete para cada instituição a responsabilidade de avaliar as necessidades: "Cada hospital tem um conselho de administração e um diretor clínico. São eles que analisam estas necessidades ou fazem a previsão das necessidades."
"Compete a cada hospital, em função do que é a procura previsível, os cuidados para se adaptar. Se isso passa pelo reforço de recursos humanos em horas ou dias determinados, é da responsabilidade do hospital, que terá o apoio da Administração Regional de Saúde respetiva e do Ministério da Saúde", refere também.
Para Graça Freitas, que descreve aquele que considera ser um "procedimento normal", seria uma boa prática que os utentes, "antes de se dirigirem a um serviço, procurassem qual será a melhor forma e como o devem fazer".
O diretor da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, considera, no entanto, que os médicos não podem correr riscos. Ouvido pela TSF, o representante da associação afirma que, com a sobrecarga de trabalho, é necessário um reforço de profissionais.
"Eu quero crer que uma medida de sobrecarga e de mais doentes onde já não há recursos para ver mais doentes é acompanhada das devidas condições para que isso seja possível", admite Rui Nogueira, que traça um cenário de grandes dificuldades para os médicos. "Nós não podemos trabalhar com uma pressão inadequada de doentes. Em vez de vermos 20, vermos 40 não é igual e não é possível. Há questões de segurança que estão em causa, bem como a saúde de pessoas e mesmo de crianças", aponta ainda.
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Rui Nogueira faz questão de lembrar que ser médico é, já por si, uma "profissão de risco".
Já a Comissão dos Utentes de Saúde do concelho do Seixal mostra-se mesmo preocupada com o encerramento da urgência pediátrica do Garcia de Orta durante a noite por falta de médicos.
José Lourenço, representante da comissão dos utentes, entende que há muito que a ministra deveria ter acautelado a situação. "São medidas absolutamente paliativas, e não entendemos como é que, durante uma legislatura, não se conseguiu dar a volta a uma situação que se sabia que era estrutural, que era uma situação criada há muito tempo", critica.
"O Governo teria tido algum tempo pelo menos para reiniciar uma inflexão no caminho que o Serviço Nacional de Saúde estava a tomar."
Para a Comissão dos Utentes de Saúde do concelho do Seixal, as medidas anunciadas esta quinta-feira pela ministra da Saúde não respondem à necessidade: "Da parte da senhora ministra parecia haver um esforço no sentido de tentar resolver a situação. Como não há uma resolução imediata, naturalmente que a população tem de continuar a manifestar a sua indignação. Se não diretamente a senhora ministra, alguém dentro do Governo está a travar os investimentos que é necessário fazer no SNS, por isso é que ele chegou onde chegou."
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"Existe, na lei das Finanças, uma indicação de que é proibido fazer cativações na Saúde. O certo é que todos vemos no dia-a-dia os problemas que vemos em termos de desinvestimento", aponta José Lourenço, que deixa ainda dúvidas no ar: "As verbas são orçamentadas, não são executadas, e isso leva-nos a crer que existem de facto cativações dentro da Saúde, o que não consideramos um ato de lealdade por parte do Governo relativamente às promessas que faz."