Dia de prevenção do suicídio. "As pessoas têm de saber que têm alguém para contactar"
Ordem dos psicólogos portugueses defende a existência de mais profissionais nas escolas, locais de trabalho e centros de saúde que possam acudir de imediato quem pensa em suicídio
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A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) considera necessário que se conheçam dados sociodemográficos, métodos e meios utilizados, para que se possa fazer uma prevenção atempada do suicídio. Neste Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, a Ordem lembra que em Portugal o número de mortes por suicídio continua a ser mais elevado do que em qualquer outro país do sul da União Europeia.
Miguel Ricou, presidente do conselho da especialidade de psicologia clínica e de saúde da Ordem dos psicólogos portugueses, adianta que sem conhecimento desses dados será difícil atuar. "A grande dificuldade é não sabermos isso de uma forma informada e científica", considera. O especialista defende que "é preciso estudar os fenómenos para atuar de fora adequada". Miguel Ricou adianta que se podem fazer especulações sobre as causas que levam alguém ao suicídio e dá o exemplo da taxa no Alentejo, a maior do país. "Não sabemos exatamente porquê, temos ideias, mas só temos ideias", afirma. "Se calhar é altura de fazermos um plano estruturado e adequado que permita identificar os fatores de risco", adianta.
Em 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), suicidaram-se 53 jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, sendo a maioria rapazes entre os 20 e os 24. Há 20 anos que não se registava uma taxa de suicídio tão elevada em Portugal nos jovens. Em Portugal, em média, registam-se três suicídios por dia e 8,9 suicídios por 100 mil habitantes, de acordo com os dados do INE referentes a 2021.
A Ordem dos psicólogos elaborou um documento a que chamou "Prevenção do suicídio: intervenções e políticas públicas efetivas" com contribuições para melhorar estas estatísticas. Além de propor a restrição de acesso a meios de suicídio, como armas e pesticidas, e a existência de mecanismos de segurança em locais de risco, defende que só é possível prevenir o suicídio se as pessoas tiverem acesso rápido a um profissional de saúde.
"Se chegarmos no momento anterior [do suicídio] junto de alguém que está com a decisão tomada a este nível, na maior parte das vezes conseguimos evitar que isso aconteça", assegura. O psicólogo defende, por isso, a existência de profissionais nas escolas, locais de trabalho e centros de saúde. "As pessoas têm de saber que em determinado momento há alguém que podem contactar", sublinha.