Dia Mundial do Artesanato. Roque "mãozinhas de ouro" cria santos e anjos em cápsulas de café de alumínio
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A alegria de Roque Silva, de 62 anos, natural de Viana do Castelo, é o artesanato. Descobriu-o tarde na vida. Aos 40 perdeu um pulmão para a doença e conta que, desde aí, a sensibilidade na mão direita, que lhe permitia o gosto de desenhar desde criança, nunca mais foi a mesma. Quando deixou o trabalho de empregado de escritório, há alguns anos por causa dos problemas de saúde, tornou-se artesão. Começou a fazer cabeçudos e, entretanto, a pedido de uma pessoa amiga que lhe o desafiou a “fazer qualquer coisa” com cápsulas de café, passou a utilizar aquele desperdício para criar um artesanato único. Molda bonecos, minuciosamente, como se fossem joias. Um trabalho apenas compatível com cápsulas de alumínio daquela marca em cuja publicidade George Clooney diz: "What else?" Em casa tem, atualmente, “mais de dez mil cápsulas” que as pessoas lhe vão oferecendo, sabendo do seu gosto.
“Alumínio. Tudo alumínio, de várias cores”, afirma Roque, referindo: "Todos os bonecos que faço, são todos com a cor natural da cápsula. Tenho para aí umas cem variedades de cores e [de cápsulas] com desenhos."
Das suas mãos saem todo o tipo de figuras. As mais procuradas são presépios [nestes também usa por vezes latas de conserva], anjos, o Santo António e as Senhoras de Fátima e d’Agonia. Tudo a pedido de amigos e conhecidos.
“‘Faz-me uma Senhora de Fátima’, pediram-me. Para fazer tinha de ser com cápsulas brancas. Só tinha para aí umas 30, mas lá consegui fazer meia dúzia. Depois pediram a Nossa Senhora do Carmo, e eu pensei: ‘Ó que trabalhos!’ E assim começou”, conta risonho.
A sua obra “maior” foi a Senhora d’Agonia, padroeira dos pescadores de Viana do Castelo. “Depois tínhamos tantas cápsulas roxas e comecei a pensar no que podia fazer com elas. Lembrei-me da Senhora d’Agonia [o manto é roxo]. Comecei a tentar e depois não sei com foi, dei um jeito e ficou tal e qual a Nossa Senhora inclinada [como a imagem original]”, relata.
O sucesso foi tal que até o pároco local se interessou pela sua arte.
“Comecei a aperfeiçoar a Senhora d’Agonia. Depois um colega meu é amigo do padre. Deu aquilo ao padre, que encomendou logo não sei quantas. E esse meu colega até me disse: ‘vou-te dar uma benzida’. E pronto a partir daí nunca mais parei”, comenta o artesão, indicando que a época das festas da cidade, em honra da padroeira dos pescadores, Nossa Senhora d’Agonia, é de “muitos pedidos”.
A esposa Cristina Araújo é a sua parceira de ofício, dá uma mão e até tem as suas próprias criações. “A mulher entretém-se a fazer anjinhos, que também sanem muito bem. São feitos daquelas cápsulas trabalhadas”, diz.
O seu trabalho está à venda apenas numa loja de Viana do Castelo, mas Roque Silva vende e até costuma oferecer muitas das suas peças. “Gosto de fazer. Também gosto de dar. Não é por ganhar dinheiro. Não me interessa muito. Gosto disto. Entretém-me. Fico contente e a mulher também”, comenta o artesão que nos últimos tempos voltou a debater-se com problemas de saúde no pulmão que lhe resta. Sempre alegre, conta que lhe dá gosto quando lhe elogiam o jeito para o artesanato: “O que as pessoas me dizem sempre é: você tem umas mãozinhas de ouro…”
