No Hospital Terras do Infante, em Lagos, uma equipa multidisciplinar reabilita o mais depressa possível os doentes com Acidente Vascular Cerebral
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O médico Carlos Machado anda pelo corredor do internamento e uma colega pergunta-lhe se há cama para uma doente naquele serviço. “Trá-la para cá”, responde o fisiatra.
A doente é Marieta, uma das utentes que teve um AVC recentemente e vai começar a fazer reabilitação.
Dois pisos abaixo fica o ginásio do hospital Terras do Infante, em Lagos, uma unidade que pertence ao Centro Hospitalar e Universitário do Algarve. Ali encontram-se vários doentes e, em comum, o facto de todos terem sido vítimas de um Acidente Vascular Cerebral.
Carlos Machado, o médico fisiatra responsável pelo Centro Especializado Integrado de Reabilitação do AVC, pede-lhe para contar como ali chegou. ”Cheguei mais murcho do que um figo maduro”, responde o doente, arrancando uma gargalhada ao médico. “Cheguei esmorecido, mas nunca perdi a minha fé e a força de vontade”, garante.
António não fumava, nem bebia álcool, no entanto, tinha uma vida muito agitada. Era pescador e simultaneamente tinha um restaurante onde trabalhava o dia inteiro. Chegava a deitar-se às 02h00 e levantava-se às 06h00. Quando ali chegou, não andava, não tomava banho sozinho, nem realizava as tarefas mais básicas. Agora já consegue fazer praticamente tudo sem ajuda e está quase a ter alta.
Quando se tem um AVC tudo é desaprendido. Além de ser obrigatório repor a função cognitiva, é preciso voltar a aprender tudo. O médico utiliza uma imagem. “A pessoa perde o acesso a uma série de ficheiros, como se fosse uma coisa informática. Não se lembra como se fala, como se come, como se engole”, concretiza.
O médico Carlos Machado conta que a vantagem deste centro especializado é começar a trabalhar pouco tempo depois dos doentes terem tido os sintomas. Habitualmente, depois dos doentes saírem do serviço de medicina, vão para casa ou para alguma unidade de cuidados continuados e só começam a fazer reabilitação, muitas vezes, dois meses depois.
A fisioterapeuta Cátia Simões conta que estão a aparecer pessoas cada vez mais novas com AVC. ”Temos um caso com 28 anos”, diz. Renan, de nacionalidade brasileira, é esse caso. Teve um Acidente Vascular Cerebral há pouco mais de uma semana, foi transferido para Lisboa para fazer uma trombectomia e já está no hospital de Lagos para começar a fazer fisioterapia e ser medicado.
Renan não consegue mexer o braço esquerdo, nem andar. Tem uma filha que nasceu há seis meses e toda a situação deixa-o muito angustiado. A depressão é um dos sintomas que os médicos têm de combater logo de início com medicação. Por isso, neste hospital, os pacientes com AVC são acompanhados por uma equipa multidisciplinar – médico, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, neuropsicólogos, enfermeiros de reabilitação e nutricionistas.