"Diminuição da desigualdade de acesso." Farmácias querem ter papel de apoio ao SNS
A presidente da Associação Nacional de Farmácias diz à TSF que o período da pandemia comprovou que as farmácias podem chegar a zonas mais isoladas e aliviar a pressão nas urgências nos grandes centros urbanos.
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A presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF), Ema Paulino, lamenta que o Serviço Nacional de Saúde não explore todas as capacidades destes espaços, de forma a melhorar o funcionamento e a sustentabilidade do próprio serviço.
Um estudo sobre os ganhos conseguidos com a testagem à Covid-19 realizada nas farmácias vai ser apresentado esta quinta-feira e a representante das farmácias explica que a partir destes dados é possível perceber o potencial, sobretudo das farmácias comunitárias.
"No fundo, a diminuição ao nível da desigualdade de acesso que comprovadamente veio trazer o envolvimento das farmácias na testagem, porque houve um aumento do número de concelhos onde as pessoas passaram a ter acesso à testagem de forma comparticipada", realça Ema Paulino à TSF.
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Além disso, os resultados do estudo demonstram também "uma diminuição ao nível do número de quilómetros que as pessoas tiveram de fazer para se deslocar a um centro de testagem", com impacto nas "pessoas que tinham maiores dificuldades nessa deslocação, nomeadamente a população mais empobrecida, com mais idade ou com mais doenças crónicas".
"Houve meses em que mais de 90% dos testes foram realizados em farmácias comunitárias, o que é bem demonstrativo de que a acessibilidade aumentou a participação da população nesta iniciativa de testagem massiva e que, com isso, viemos criar melhores condições para impedir a progressão da doença", refere a presidente da ANF.
A ideia de Ema Paulino é transportar este exemplo para outras áreas da saúde. "Na realização de testes rápidos para outras infeções, nomeadamente e agora continuando com testagem Covid, mas também contra a gripe A e nós sabemos da pressão sobre as urgências hospitalares que as doenças respiratórias agudas estão a ter neste momento. Através de uma intervenção nas farmácias, enquanto porta de entrada, podia prevenir-se muitas dessas idas às urgências, instituindo uma terapêutica diretamente a partir das farmácias comunitárias", sugere, dando o exemplo de outras infeções como o VIH, a hepatite C ou a hepatite B, "no sentido de promover um tratamento atempado, para que as pessoas também estejam controladas e para que se possa prevenir novas infeções".
Nas zonas rurais e menos densamente povoadas, nas quais as farmácias "são as únicas estruturas de saúde ainda em funcionamento", devem ser "uma porta de entrada e uma porta aberta para a resolução dos problemas de saúde das pessoas e, depois, ter meios, por exemplo, de telemonitorização e de transmissão de indicadores de saúde aos centros de saúde e às unidades hospitalares para se fazer a monitorização dessa população".
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Mas também podem ter um papel importante nos grandes centros urbanos: "Temos as farmácias situadas em zonas urbanas, mas onde existe tal pressão em termos demográficos, como a zona da Grande Lisboa e do Grande Porto, em que as farmácias podiam ser apresentadas como uma porta de entrada que permite uma triagem prévia, em complementaridade com a linha SNS 24, e haver as mesmas vias de referenciação que existem ao nível do SNS 24 serem acionadas através das farmácias comunitárias."
A apresentação do estudo em que se apresentam estas conclusões vai contar com a presença do ministro da Saúde, Manuel Pizarro.