Afonso Dias, que foi deputado Constituinte, anda pelas escolas do Algarve a falar dos direitos consagrados na Lei Fundamental.
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Há anos que se divide pelas escolas a divulgar poesia, associando-a a canções do período revolucionário. Mas agora que Portugal tem em marcha as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, Afonso Dias decidiu apresentar um novo projeto às escolas: falar da Constituição aos jovens. "Fui deputado constituinte e não sei se há mais algum dos meus colegas da época que cante e diga poesia", afirma a rir.
Afonso Dias conta ter percebido que os mais novos ouvem muito falar do 25 de Abril, mas da não da Constituição, e nem sabem para que serve. "Decidi vir falar da Constituição, investir pela arte na cidadania", explica. Mas na Escola Secundária de Loulé, onde naquele dia deu a sua "aula", quando questionou se alguém na sala sabia o que era a Constituição e o que continha, por vergonha ou desconhecimento, nenhum dedo dos alunos se levantou.
Afonso Dias, que ainda tem um velhinho exemplar da Constituição Portuguesa só atribuído aos primeiros deputados, recorda aos estudantes o artigo 13.º que fala da igualdade. Lembra os tempos em que essa igualdade era mais difícil de conseguir e apresenta exemplos concretos para que a plateia perceba. "Aqui à volta, aldeias como a Tor, Salir, Alte, Querença, Benafim, nenhuma tinha luz elétrica ou água canalizada", conta aos jovens. E adianta: "Era preciso substituir aquela Constituição que servia aquele tempo, em que havia prisão e tortura, e substitui-la por uma nova."
Na aula, aproveita para cantar e dizer poemas. A dica para meter as cantigas que traz na voz e na guitarra é dada pelo poema de Camões "Descalça vai para a fonte". O cantor atribui-lhe outra roupagem, com o poema de António Cabral. "... Se tivesse umas chinelas iria melhor, mas não/ Com o dinheiro das chinelas comprou um pouco mais de pão", canta.
Para a maior parte dos jovens, esta e outras músicas que foram cantadas na aula são novidade, nunca as tinham ouvido e talvez sejam até "uma seca". Mas,Afonso Dias, que participou na elaboração da 1.ª Constituição Portuguesa, está convencido que é preciso insistir na cidadania e deixar a mensagem às gerações futuras.