Rui e José Viegas deixaram os empregos para embarcarem numa viagem que os levará a percorrer centenas de milhares de quilómetros. Durante meses vão navegar e viver num barco de seis metros de comprimento.
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Um barco com duas divisões, duas velas e um pequeno motor foi o suficiente para convencer dois irmãos algarvios a embarcar numa odisseia. Em novembro, partiram de Vila Real de Santo António com o primeiro objetivo de chegarem à Patagónia. Neste momento estão em Cabo Verde, depois de já terem passado por um par de países e de confinamentos.
Rui Viegas, de 27 anos, e José Viegas, de 35 anos, nasceram à beira mar. O irmão mais velho conta à TSF que a viagem sonhada desde a adolescência não começou como seria de esperar. Na primeira paragem, em Marrocos, encontraram as fronteiras encerradas, devido à pandemia. Foi desde logo "um período difícil", explica José Viegas, já que só vários dias depois, quando chegaram à ilha de Lanzarote, puderam sair do barco pela primeira vez.
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Mais adiante, à passagem do Cabo Bojador, os sintomas gripais revelaram que a Covid-19 tinha embarcado na aventura dos irmãos de Vila Real de Santo António. Recuperaram da doença em águas cabo-verdianas e é por aí que se encontram atualmente, na ilha de São Vicente, à espera de tempos e ventos de feição para rumarem a outras paragens.
"Inicialmente a ideia era ir ao Brasil", depois de saírem de Cabo Verde, mas a Covid-19 afastou Rui e José Viegas dessa ideia. Por causa da pandemia, nem todos os portos brasileiros estão abertos. Por isso, "o trajeto vai passar pelo Caribe", antes de atingirem "o primeiro grande destino, que é a Patagónia".
Cruzando o Estreito de Magalhães, o objetivo é regressar também por via marítima ao país onde os irmãos Viegas largaram os empregos para embarcarem nesta viagem. José foi polícia durante dez anos e, no ano passado, demitiu-se do trabalho por mobilidade que desempenhava na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Enquanto que Rui chegou a trabalhar na hotelaria e, em 2021, largou o café que geria na aldeia de Santana de Cambas, em Mértola.
Agora, com menos de um terço da viagem completa, os recursos financeiros dos dois irmãos "vão findar em cerca de dois meses". No entanto, o ex-polícia assegura que esse assunto "não é uma grande preocupação".
A ideia, adianta José Viegas, passa por procurar trabalho "nos barcos, nos veleiros, numa empresa de charter ou em terra mesmo, fazendo alguma coisa", de preferência na região do Caribe, para onde planeiam ir quando for possível, jogando ao sabor das condições meteorológicas.
Já a vida no barco de apenas seis metros contrasta com a flexibilidade do calendário da aventura. "À noite fazemos turnos de três horas a dormir, a cada 15 ou 20 minutos devemos olhar o horizonte e perceber se há alguma luz que se aproxima. Durante o dia, cozinhamos uma refeição quente por dia, mas já houve vezes em que isso não foi possível."
O barco é pequeno, mas nem o tamanho coloca o medo na rota dos dois irmãos algarvios, que olham para a morte como algo inevitável. José Viegas observa que "algumas pessoas deixam de fazer isto ou aquilo, porque podem morrer", mas não hesita em apontar um lema dito pelo irmão: "Tu tens de morrer, portanto é bom que faças [aquilo que queres]."
Quase de saída de Cabo Verde para cruzar o Oceano Atlântico, o próximo destino é a ilha de Martinica, no Caribe.