"A Opinião" de Fernanda Câncio, na Manhã TSF.
Corpo do artigo
Robert Biedron, já ouviu falar?
É um político polaco de 42 anos eleito em 2014, com 57% dos votos, para a presidência da câmara de Slupsk, uma cidade no norte do país, com cerca de 100 mil habitantes.
Esteve no partido Social Democrata, na Aliança Democrática de Esquerda, e ainda no Palikot Movement, pelo qual foi eleito para o parlamento, em 2011.
Em setembro, lançou o seu próprio movimento, ainda sem nome. Está em terceiro lugar nas intenções de voto para as presidenciais de 2020.
Num país considerado hiper-conservador e fundamentalista católico, com um governo de direita progressivamente mais autoritária e nacionalista à maneira do húngaro Orban, Biedron tem a particularidade de ser ateu assumido, europeísta e pró-imigração. E ainda homossexual e ativista dos direitos LGBT.
Por ser homossexual, foi várias vezes, após a sua eleição para o parlamento em 2011, alvo de agressões físicas na rua. Mas não desarmou. Decidiu candidatar-se a presidente de câmara de Slupsk.
Como tinha pouco dinheiro - garante ter gastado apenas mil euros na campanha - foi para a rua falar com as pessoas. E ganhou. Acaba o mandato com 93% de aprovação, depois de sanar as contas da cidade, aumentar a oferta de habitação pública e colocar um sofá na rua para conversar com os cidadãos um a um.
É verdade que Biedron, ao baixar o seu salário de autarca e ao investir num tipo de contacto com o público devedor dos talk-shows popularuchos e da selfielogia marcelista, se põe a jeito para a acusação de populismo "positivo" que lhe fazem. Talvez, como Marcelo, tenha intuído que para combater o populismo mau é preciso criar uma espécie de populismo bom - seja lá isso o que for.
Porque é preciso encontrar um antídoto. E é por isso que vos falo deste homem tão desconhecido - de mim e da maioria de vós - nesta primeira crónica de 2019.
TSF\audio\2019\01\noticias\02\02_janeiro_2019_opiniao_fernanda_cancio
Porque depois de um ano tão escuro, um 2018 no qual o mundo e a Europa parecem determinados abraçar o mal só para variar, é preciso encontrar motivos para ter esperança. Olhar para os que não se deixam derrotar, não baixam os braços, não se conformam. Olhar para as Marielles Franco que, depois de Marielle morta, continuam, continuarão, o seu combate. Olhar para os que nas ruas da Hungria contestam incansavelmente, admiravelmente, corajosamente Orban - e aos quais damos tão pouca atenção, tão pouca força.
Olhar para quem, como Biedron, acredita que é possível vencer esta guerra, por mais insultos e pancada que lhe enderecem na rua, por mais que as probabilidades estivessem e estejam contra si.
Porque, como me disse há dias Bernardo Pires de Lima, que tanto nos ajuda a pensar o mundo, "são estas pessoas que precisamos de tornar mainstream. Se não lhes dermos mediatismo, os outros vencerão."
É disso que precisamos em 2019: de não desistir e de dar força a quem não desiste.
*a autora não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990