Programação deste ano do Doclisboa é uma viagem que percorre " momentos importantes da história do cinema que antecedem os olhares do cinema contemporâneo."
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A homenagem a Jean Luc Godard, a Questão da Guerra Colonial, a retrospectiva integral do brasileiro Carlos Reichenbach ou a surpresa de um " telegrama" projetado e interpretado ao vivo por Lula Pena. De " Terminal Norte" a "Objectos de Luz", passam este ano pelas salas do DOC, 281 filmes. São 20 anos e a festa vai começar.
" Um acto-filme sonoro inter- espécies"
A sessão de abertura do Doclisboa tem este ano um outro figurino "por serem os 20 anos tínhamos vontade de abrir o festival de uma forma diferente, onde a música e o corpo estivessem presentes e várias formas de expressão e foi um encontro entre termos visto o filme da Lucrecia Martel - Terminal Norte - e pensarmos que gostaríamos de convidar uma artista a trazer a sua criação para o festival." Lula Pena foi a escolha , explica Miguel Ribeiro, director do festival , e a compositora e intérprete estará no cinema São Jorge para algo nunca visto " neste lugar do corpo e da voz vou arriscar muitas coisas em palco, jamais feitas, jamais tentadas ."
Acompanhada pela réplica de uma lira grega antiga, Lula Pena deixa na Tsf algumas pistas para decifrar o Telegrama ( nome que é já um improviso para o que aí vem) : " só vai mesmo acontecer naquele momento e naquele dia, e é uma tentativa de simplificação deste mundo em que todos cabemos, e todos inclui seres não humanos, com quem partilharei momentaneamente o palco." Projectado e musicado em tempo real, "é uma abordagem sobre a sensibilidade que existe no outro e até que ponto nos permitimos dar um tempo, e a forma como o som interfere com os nossos corpos, de forma quase invisível."
Este é o " acto-filme sonoro inter-espécies", de Lula Pena, que antecede o filme de abertura Terminal Norte, onde a realizadora Lucrecia Martel acompanha a cantora Julieta Laso durante o confinamento de 2020. Com as duas, viajam para Salta, terra natal da realizadora argentina, um grupo de mulheres artistas que vão partilhar diferentes identidades e musicalidades.
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"Dialogar com o que se está a passar no mundo"
281 filmes, 47 estreias mundiais e 44 portugueses. Os números ajudam a projetar a dimensão do festival , que celebra 20 anos.
Miguel Ribeiro, diretor do Doclisboa, enquadra a programação deste ano numa viagem que percorre " momentos importantes da história do cinema que antecedem os olhares do cinema contemporâneo." Os dois pilares que sustentam a edição deste ano são a Questão Colonial " com os filmes da guerra colonial feitos logo após a criação de novos territórios e identidades nacionais após o colonialismo em territórios africanos e cujo propósito é criar debate e novas lutas", e a Retrospetiva de Carlos Reichenbach , onde se percorre o percurso de um realizador que começou a filmar durante a ditadura militar no Brasil "o seu profundo fascínio sobre a liberdade e o cinema como campo de experimentação e de utopias. " Quanto ao todo da programação contemporânea " procuramos não ter guia.
É no diálogo entre cinema contemporâneo e momentos da história do cinema que se desenha o figurino da edição 20 do Doclisboa e este ano, o cinema brasileiro ganha uma luzes mais intensas num cenário de eleições presidenciais " era importante", realça Miguel Ribeiro trazer para a tela do Doc " olhares que podem proporcionar e incentivar o desejo de uma comunidade ativa de solidariedade e de mudança." Ao todo são 281 portas de entrada para o festival, e como anuncia a organização, de 6 a 16 de outubro " todo o mundo cabe em Lisboa", mas este ano a sessão de abertura e de encerramento acontecem em simultâneo em Lisboa e no Porto.
Toda a programação pode ser consultada em doclisboa.org.