Autor de relatório da Direção-Geral de Saúde diz que estes resultados são um alerta, económico, para a necessidade de investir numa área que ainda é o «parente pobre» da saúde portuguesa
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As doenças mentais e do comportamento são aquelas que mais incapacitam os portugueses para o trabalho. A conclusão surge num relatório da Direcção-Geral de Saúde, "Portugal - Saúde Mental em Números 2014", que revela também que somos o país Europeu com maior consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos. Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas.
O diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental sublinha que os resultados hoje divulgados, nomeadamente sobre o impacto destas doenças na economia através dos anos vividos com incapacidades, devem ser um alerta para a necessidade de investir nesta área. As doenças respiratórias e a diabetes são as que se seguem neste ranking, mas têm um impacto quatro vezes menor.
Álvaro de Carvalho sublinha que a saúde mental ainda é «um parente pobre» e «os cuidados continuados de saúde mental continuam, aparentemente, por arrancar devido às dificuldades financeiras».
O relatório sublinha que somos um dos países do Ocidente com taxas mais altas de prevalência destas doenças e, na comparação com outros países, «Portugal apresenta dos mais altos valores de prevalência de perturbações psiquiátricas (22,9%), apenas comparáveis com a Irlanda do Norte (23,1%) e com os EUA (26,4%)».
O documento acrescenta que Portugal ainda tem várias falhas no acompanhamento destes doentes, com um nível de desenvolvimento «inferior ao dos restantes países da Europa Ocidental».
É preciso um novo modelo de financiamento e uma nova composição para as equipas comunitárias de saúde mental, algo que leva a que a intervenção predominante continue a ser com medicamentos, mesmo quando isso não é necessário.
O consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos em Portugal é três vezes maior do que na Dinamarca e perto do dobro do que ocorre em Itália.
As duas substâncias mais usadas, "alprazolam" e "lorazepam", são, aliás, as que têm maior capacidade de criar dependência. O relatório pede mesmo que se faça uma análise prática sobre a prescrição destes fármacos que não tem parado de aumentar.
Outro problema é a falta de médicos especialistas para tratar as perturbações psiquiátricas, sobretudo entre as crianças e os adolescentes. Na zona Norte, por exemplo, o sector público tem apenas 10 camas disponíveis para estas idades, um número que sobe para 14 na zona Centro.