"Por mais centros que construam, nunca vão chegar para os animais abandonados todos os anos"
Mais do que criar centros de recolha, é necessário alterar mentalidades, para que deixe de haver dezenas de milhares de animais abandonados todos os anos. O bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários pede medidas mais holísticas para resolver o problema.
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Dois anos depois de ter entrado em vigor a lei que proíbe o abate de animais nos canis, o problema da superlotação nestes centros de recolha animal subsiste. Jorge Cid, bastonários dos médicos veterinários, lamenta que não tenham sido feitos os investimentos previstos.
"Deveriam ter sido criadas condições para que houvesse muito maior capacidade de alojamento. Houve casos de êxito em que isso foi feito, mas outros não o fizeram." O representante dos médicos veterinários defende que a falta de investimento faz com que não haja "condições nos centros para a recolha de animais". Jorge Cid deixa um alerta, em declarações à TSF: "Para tudo é preciso dinheiro, é preciso planeamento, mas sobretudo verbas. Houve muito pouco investimento e hoje a situação está completamente descontrolada, e isso é notório pelos casos que têm vindo a ser conhecidos."
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A lei que entrou em vigor há dois anos previa a criação de uma rede de centros de recolha de animais em todo o país, mas atualmente existem pouco mais de cem municípios com canis oficiais. Para o bastonário dos médicos veterinários, a solução definitiva para o problema não é a criação de centros de recolha.
"Por mais centros que construam, nunca vão chegar para a quantidade de animais abandonados todos os anos, por isso as medidas eficazes que têm de ser tomadas é para combater o abandono", argumenta Jorge Cid. Entre essas medidas, a "alteração de mentalidades" terá sempre de ser um fator a ter em conta, salienta. "Têm de ser criadas 'n' medidas para que as pessoas não abandonem os seus animais, porque, com este ritmo de 20, 30, 40, 50 mil animais abandonados todos os anos, por mais que se construam canis, nunca chegarão para os alojar."
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Em junho, o Governo criou um grupo de trabalho para estudar a situação, e o bastonário adianta que em dezembro deverá estar concluído o inventário sobre todos os abrigos particulares existentes em Portugal. "Estamos a trabalhar com alguma rapidez para tentar ter elencados todos os problemas até ao fim do ano. São coisas que demoram tempo, porque dezenas destes abrigos são ilegais e nem há registo deles. É preciso contar com a colaboração de várias entidades, nomeadamente autárquicas e forças de segurança, para identificar estas situações."
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Apesar dos esforços, o abandono de animais de companhia ainda está por resolver, dois anos depois de ter sido criada a lei que impede o abate em canis.