Dois terços das vagas para novos médicos de família por preencher no último concurso
As vagas abertas chegavam a mais de 900 e foram contratados 279 jovens médicos de família
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O último concurso para novos médicos de família voltou a ter um saldo negativo: ficaram por preencher dois terços das vagas. O jornal Público fez as contas, a partir de dados da Administração Central do Sistema de Saúde, e concluiu que foram preenchidas menos de um terço das vagas abertas.
Foram contratados 279 jovens médicos de família, quando as vagas abertas chegavam a mais de 900. Os dados, que ainda podem ser corrigidos, mostram que o resultado do concurso foi pior do que no passado. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde há mais de um milhão de utentes sem médico de família, foram apenas contratados 113 especialistas recém-formados, quando o total de vagas era superior a 470.
As associações que representam os médicos de família já esperavam um fracasso, porque o concurso foi lançado com atraso e novas regras. O presidente da Associação Nacional de Saúde Familiar admite que ainda estava à espera que "o resultado fosse pior" e avisa que haverá "muitos médicos a desvincular-se" do Serviço Nacional de Saúde nos próximos meses.
Em declarações à TSF, António Luz Pereira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, regista uma diminuição dos médicos de família contratados relativamente ao ano passado e avança duas explicações.
"No ano passado, tínhamos conseguido contratar mais médicos da família. Este ano, essa tendência inverteu-se, o que nos faz refletir a razão de ano para ano, formarmos cada vez mais médicos de família e conseguirmos cativar o menor número de médicos de família, principalmente este ano, tendo em conta aquilo que foram as alterações na metodologia do concurso, que deixou de ser um concurso nacional para ser um concurso por ULS. No ano passado estávamos habituados a ter os concursos terminados em junho e este ano estamos no final do ano e só agora é que estão a terminar os concursos. Isso também teve um impacto naquilo que foram os médicos de família contratados e, por outro lado, a falta de medidas que permitam cativar mais médicos de família para o Serviço Nacional de Saúde", explica à TSF António Luz Pereira, defendendo que é preciso inverter o caminho que está a ser feito.
O dirigente sugere várias medidas: "Criar medidas que cativem os recém-especialistas que formamos a permanecerem no Serviço Nacional de Saúde, tornar o horário dos médicos de família mais flexível, permitir uma melhor compatibilização entre o tempo de trabalho e o tempo e a gestão familiar, reduzir as listas de utentes, permitindo um melhor acompanhamento dos nossos utentes por esses médicos de família, pensar também nas questões remuneratórias, porque sem isso nós corremos o risco de, ano para ano, não conseguirmos inverter este ciclo e aumentarmos o número de utentes sem médico de família."
O Ministério da Saúde já admitiu as falhas e decidiu voltar ao modelo anterior, em que os concursos voltam a estar centralizados. O segundo concurso do ano está a ser preparado e vai ser lançado no próximo mês.
Notícia atualizada às 11h05