Doméstica, sexual ou financeira: pedidos de ajuda de homens vítimas de violência aumentam 17% entre 2022 e 2023
Os dados da APAV mostram que, em dois anos, mais de 6500 homens pediram ajuda, vítimas de cerca de 11 mil crimes ou outras formas de violência, como bullying ou assédio laboral
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A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou, entre 2022 e 2023, um aumento de 17% dos pedidos de ajuda por parte de homens vítimas de violência. O retrato exclusivo de homens no papel de vítimas foi publicado, pela primeira vez, esta quarta-feira, pela APAV, e revela que a maioria queixa-se de violência doméstica, mas também há registo de casos de violência sexual e até financeira.
Os números divulgados pelo jornal Público mostram que, em dois anos, mais de 6500 homens pediram ajuda à APAV, vítimas de cerca de 11 mil crimes ou outras formas de violência, como bullying ou assédio laboral.
As mulheres continuam a representar 75% dos pedidos de ajuda, mas a APAV sublinha que as queixas por parte dos homens têm aumentado. A violência doméstica é o fenómeno mais comum, com quase 9850 crimes reportados por homens. Em 50% dos casos, os autores das agressões são mulheres.
Têm crescido também os pedidos de apoio em casos de violência psicológica, sexual e até financeira. A APAV recebeu cerca de dois mil pedidos de ajuda de crianças e jovens, ainda que a maioria das vítimas tenha entre 18 e 64 anos. Entre os idosos há também um aumento do número de pedidos de apoio.
Em declarações à TSF, Daniel Cotrim, da APAV, descreve os vários tipos de violência. "Estamos a falar de uma forma de violência não muito diferente daquela que também assola as mulheres. Estamos a falar de maus tratos, de violência física, de violência psicológica, de violência sexual e também de violência financeira. A grande maioria destes homens são vítimas das suas companheiras ou das suas ex-companheiras, apesar de haver 40% de homens que são vítimas de outros homens em relações homossexuais", explica à TSF Daniel Cotrim.
O responsável da APAV destaca ainda outro dado: "Nesta violência, em contexto de intimidade, também tem aumentado o número de homens com mais de 65 anos em situação de maior vulnerabilidade, que são vítimas dos seus filhos ou dos seus netos."
Daniel Cotrim destaca que a maioria da violência acontece em contexto familiar e acrescenta que, apesar do aumento dos casos de violência doméstica sobre homens, a vergonha continua a impedir muitos de procurarem ajuda. "O número de denúncias e o número de pedidos de ajuda tem aumentado. Sabemos que ainda é inferior àqueles que poderão ser os que não são reportados. Isto também tem de fazer pensar que o trabalho de prevenção das questões da violência doméstica também tem de tocar a questão dos homens, exatamente para tocarmos a questão da vergonha, do estigma a que os homens se sentem dotados quando são vítimas deste tipo de situações, mas também para que nós, enquanto sociedade, e também nós, enquanto homens, possamos fazer uma reflexão também sobre a masculinidade", refere.
"Muita desta informação que nós vamos tendo de alguma forma ainda é um pequeno retrato da realidade da violência contra os homens e também está muito dependente daquilo a que chamamos a 'masculinidade tradicional', uma masculinidade muito marcada pelo poder e que nos diz que os homens não choram, que os homens não são vítimas, que os homens são provedores. Ora, a realidade muitas vezes ou na grande maioria das vezes é diferente", sublinha.
Os alertas surgem, muitas vezes, por parte das juntas de freguesia, de entidades de ação social ou polícias, que detetam casos de homens, em situação de dependência, que são agredidos, que vêm as contas bancárias controladas, são impedidos de tomar decisões ou são colocados em lares contra a própria vontade.
A APAV estima que, por cada caso de violência reportado por um homem, existam, pelo menos, mais dois que são desconhecidos, revelando ainda que a denúncia de casos de violência pelos homens demora, em média, entre 6 meses a dez anos.
Notícia atualizada às 09h35