Dos internamentos sociais ao risco de perder as verbas do PRR: qual o destino dos idosos em Portugal?
Em declarações no Fórum TSF, o presidente da APAH descreveu esta situação como "a pior de sempre"
Corpo do artigo
O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, questionou no Fórum TSF onde está o apoio para os mais velhos. Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa e, em março, havia mais de dois mil internamentos sociais (pessoas que estão nos hospitais e já não precisavam de lá estar, mas não têm ninguém que os acolha).
Este número equivale a 11% do total de doentes internados nos hospitais e a falta de lares e de vagas na rede de cuidados continuados tem agravado o problema. Xavier Barreto descreveu a situação como "a pior de sempre".
"O nosso papel é sempre o de tentar colocar em sobressalto o nosso poder político para que percebam aquilo que está a acontecer no dia a dia, no terreno, na vida das instituições e das pessoas, e saibam, de facto, aquilo que é urgente." O presidente da APAH, que esta quarta-feira foi ouvido no Parlamento, afirma que apesar das conversas que vai mantendo com os políticos faltam respostas: "Sob a necessidade de respondermos a isto de forma estruturada, mas de facto as coisas não acontecem."
Por sua vez, o presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados, José António Bourdain, garantindo que os internamentos sociais entopem o sistema, insistiu que o país pode perder muito dinheiro se não avançar rapidamente com os concursos para camas de cuidados continuados: "Apenas o Norte publicou relatórios finais e vão agora ser, espero eu, em breve assinados os contratos."
Maria do Rosário Gama da Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados nem quer acreditar que o país possa vir a perder verbas do PRR destinadas aos mais velhos: "Não se justifica que essas verbas não sejam aplicadas, principalmente porque o país vai continuar a envelhecer. Ainda bem que envelhece, ainda bem que há um ritmo acelerado de envelhecimento, é sinal que os cuidados de saúde permitiram que isso acontecesse."
O que se passa, sublinhou a presidente da Associação Nacional de Gerontólogos, é que há poucas condições e vontade das pessoas trabalharem no apoio aos mais velhos. Filipa Sousa luz destacou também que Portugal segue um caminho contrário comparando com o que se passa na Europa.
"As pessoas, quando podem escolher, escolhem envelhecer nas suas casas e não propriamente num lar. O lar, normalmente, é sempre a última opção. E, portanto, tendo por base aquilo que é esta diretiva europeia, eu acho que a discussão tem de ser colocada no sentido de perceber que investimentos têm de ser feitos nas respostas que permitem que as pessoas possam envelhecer nas suas casas ou num lugar em que desejam envelhecer, porque há pessoas que querem, de facto, envelhecer em lar", explicou ainda
João Gorjão Clara, presidente da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados, deixou um alerta no Fórum TSF: "Nas ERP, quando acabam por entrar muitos doentes, doentes que deviam estar nos cuidados continuados e não estão, porque não têm vaga, vão para as ERP, nas ERP não têm assistência médica garantida. Na legislação, que lhe permita a si ou a mim criarmos uma ERP, não é obrigatório contratarmos um médico. E, portanto, é obrigatório contratar enfermeiros, mas médicos não."
