Duendes e Guardiões tem 80 animais em "terra de ninguém". Sem ajudas o fecho está mais perto
A associação sem fins lucrativos tem sede em Braga, mas as instalações são na Póvoa de Lanhoso. Sem apoios públicos, o fecho de portas é cada vez mais iminente
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No distrito de Braga existem 63 cães e 16 gatos que estão em "terra de ninguém". Criada formalmente em 2018, a Duendes e Guardiões vive momentos difíceis.
Com a subida de preços provocada pela Guerra na Ucrânia, os custos desta Associação sem fins lucrativos dispararam, nomeadamente, com o terreno de quase quatro hectares para o qual contraíram um empréstimo que passou, nos últimos anos, de 700 para 1200 euros.
Com sede em Braga, mas com instalações na Póvoa de Lanhoso, a Duendes e Guardiões caiu numa espécie de limbo, já que não consegue apoios públicos.
Em declarações à TSF, a presidente e fundadora da Duendes e Guardiões, Ana Paula Castro, revela que todas as semanas precisa de recorrer às redes sociais para pedir ajuda e, assim, tentar garantir ração para os cerca de 80 animais do abrigo, sendo que o mais novo tem cinco anos e o mais pequeno pesa 20 quilos.
“Todos os dias começam com a possibilidade de fechar portas”, lamenta. Por mês, só em ração, esta associação gasta 1200 euros. Este montante não inclui alimentos específicos e medicamentos para animais com problemas de coração, articulações, entre outros.
As dívidas acumulam-se, por exemplo, em serviços de veterinário são já perto de 700 euros. A situação agrava-se quando algumas das madrinhas também deixam de contribuir. A paixão pela causa animal já levou Ana Paula Castro a vender o próprio carro, de modo a dar continuidade a este projeto.
A TSF questionou o vereador do Município de Braga com o pelouro da política animal, Altino Bessa, que defende que a responsabilidade da autarquia vai até aos limites territoriais do concelho.
“Eu posso registar uma associação em qualquer município. O que interessa é onde eu exerço a minha atividade e, efetivamente, a Duendes e Guardiões exerce a sua atividade num concelho vizinho”, começa por explicar. “Do ponto de vista legal, não podemos gastar dinheiro dos munícipes de Braga com animais que estão em outro concelho”, acrescentando: “Não sabemos onde foram recolhidos.”
Contudo, o responsável garante que foi oferecida ajuda, por parte do Município de Braga, para receber 13 gatos que estavam numa loja, na cidade dos arcebispos, que seriam, posteriormente, entregues ao CRO - Centro de Recolha Oficial de Braga para adoção. A proposta, diz, foi declinada pela presidente da Duendes e Guardiões.
Do lado da Póvoa de Lanhoso, a ajuda chega em caso de SOS, de acordo com o vereador da Defesa do Animal, Paulo Gago.
“A porta tem estado sempre aberta quando pedem apoio para ração ou para cuidados veterinários”, porém frisa que “não há forma de comprovar a quem pertencem os animais errantes da associação”. O facto de a sede não ser no concelho da Póvoa de Lanhoso não ajuda.
A TSF voltou a contactar a responsável da Associação Duendes e Guardiões que refuta as declarações do vereador da Póvoa de Lanhoso, visto que a última ajuda que recebeu, no que toca a ração, foi em março de 2023. Quanto às despesas com veterinário, é falso que tenha apoiado.
O próprio vereador confirmou, na entrevista à TSF, que o montante disponível pela autarquia para a causa animal é direcionado na totalidade para o CAPA – Clube de Adoção e Proteção de Animais da Póvoa de Lanhoso, não referindo valores.
A 5 de abril de 2023, a advogada da Duendes e Guardiões endereçou um pedido de acordo de cooperação no âmbito do Regulamento do Bem-Estar Animal do Município de Braga e um pedido para atribuição de apoio financeiro. No documento, a que a TSF teve acesso, a jurista pede a “emissão de parecer fundamentado junto dos serviços jurídicos”. A resposta, negativa, chegou a 20 de outubro do mesmo ano, contudo, Ana Paula Castro frisa que não se trata de um parecer jurídico, visto que a resposta parte do assessor do vereador.
No e-mail com seis pontos pode ler-se: “É nosso entendimento que não pode este Município prestar apoios financeiros para colmatar as despesas com os animais que a associação detém em instalações fora do Município de Braga (…) uma vez que não se comprova que os animais à sua guarda se tratassem de animais errantes na circunscrição do Município [de Braga], e cuja recolha fosse da responsabilidade municipal. Em conclusão sempre se diria que a atribuição de um apoio desta natureza poria em causa o princípio da igualdade, já que qualquer outra Associação, mesmo sediada no concelho de Braga que tivesse animais à sua guarda noutros Municípios, poderia vir também requerer apoios a este Município, alegando que alberga animais que seriam da sua responsabilidade”, conclui.
Desta forma, perto de 80 animais rejeitados pelos dois concelhos continuam a precisar de ajuda para não voltar para as ruas. Com o volume de contas a aumentar e sem ajudas, a Associação Duendes e Guardiões vive um dia de cada vez, muito dependente do apoio dos seguidores das redes sociais, contudo, o receio de que o fim possa estar mais perto está sempre presente.
