"É assustador." No final do verão, Algarve pode ter apenas 16% de água nas barragens
A estimativa é feita por um docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve (UALG) que sugere a construção não de uma, mas duas ou três dessalinizadoras.
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A última projeção feita por Nuno Loureiro, equacionando os consumos da região e a água existente nas barragens, aponta para que se viva uma situação alarmante no final do verão. O docente da UAlg, doutorado na área de geociências e hidrologia, acompanha há anos a situação de seca na região. Pelas suas contas, até final de setembro, o sistema integrado de barragens da região vai estar no mínimo dos mínimos.
"No conjunto das seis barragens grandes do Algarve vamos chegar ao fim do ano hidrológico com 16% [de água]", garante. "São sessenta e poucos milhões de metros cúbicos, o que é um cenário perfeitamente assustador, para ser simpático", adianta.
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O investigador faz as estimativas com base nos consumos habituais de verão, quando a população aumenta para mais do dobro no Algarve.
Considerando que o cenário poderá ser cada vez pior nos anos futuros, deixa o aviso: construir uma única central dessalinizadora na região, tal como está previsto, é pouco. "São precisas duas ou três", garante. "Se transformamos a dessalinizadora do Algarve numa história como o aeroporto de Lisboa, que é sempre preciso mais um relatório, mais um estudo, mais um parecer, quando morrermos de sede, vamos tomar consciência que precisávamos de dessalinizadoras", avisa.
A central dessalinizadora prevista para a região, cujo estudo de impacto ambiental ainda não foi entregue, vai ter capacidade para apenas 24 milhões de metros cúbicos. As barragens existentes no Algarve têm capacidade para 400 milhões de metros cúbicos e já não chegam para as necessidades.
O docente não concorda com o outro projeto alternativo pensado para suprir a falta de de chuva no Algarve, o de ir buscar água ao Rio Guadiana, na zona do Pomarão. "É irrealista, não vai acontecer porque não há água."
"O Alentejo e o Alqueva não vão querer fornecer água que já está comprometida", garante, salientando que também o Alentejo precisa de água para a população e para as suas culturas.
O investigador argumenta que, com o tempo cada vez mais seco, é preciso, por isso, pensar na forma como se ocupa os solos e é urgente não permitir a instalação de mais agricultura de regadio.
Nuno Loureiro defende também que é necessário armazenar água, regressando aos tempos antigos. "Nos telhados ter alguns depósitos que permitam armazenar a água das chuvas", sugere.
"Como é que viviam os nossos avós no Algarve?", questiona, e avança a resposta: "Todos tinham cisterna e aproveitavam a água que caía no Inverno." "Hoje, isso faz-nos imensa falta", lamenta.