"É cedo para fazer balanços" da Operação Influencer. Juízes condenam críticas ao MP e PGR
Em entrevista à TSF, o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses critica quem ataca o papel da Procuradora-Geral da República e pede esclarecimentos sobre a exclusão da PJ das buscas.
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O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses defende que ainda é cedo para dizer que o Ministério Público (MP) "sofreu uma derrota" depois do primeiro capítulo da Operação Influencer, que fez cair o Governo. Em entrevista à TSF, Manuel Soares não entende as críticas que têm sido feitas ao MP e sai em defesa dos procuradores. "Fazer balanços numa fase em que nós não sabemos o que é que está no processo nem conhecemos se a investigação já terminou e se as pessoas vão ser acusadas ou se vai haver arquivamento. E muito menos possa haver em relação ao primeiro-ministro", afirma.
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O juiz desembargador não entende as críticas e ataca quem defende a perda de independência do MP. O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses alerta que as consequências do "discurso agressivo" contra o MP são graves. "Quando fazemos este discurso agressivo como há muita gente a fazer que é preciso controlar o MP, cortar as pernas ao MP e ter um MP na mão, impedir que eles andem a investigar quem achem que devem investigar, pois quando se faz este discurso é preciso saber o que vem a seguir. Há muitos países onde os governos não são incomodados e onde um primeiro-ministro nunca será investigado. Há muitos países assim, mas eu tenho dúvidas que os nossos concidadãos queiram que Portugal fosse assim", avisa.
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Nesta entrevista, Manuel Soares também critica quem tem criticado o papel da Procuradora-Geral da República. O juiz fala em dois pesos e duas medidas de quem critica Lucília Gago. "Deviam decidir porque é a criticam e já agora explicar o que querem que ela faça. Quando ela não esclarece, não emite um comunicado, não toma uma posição sobre um processo qualquer que caia no interesse da opinião pública, toda a gente diz: "não abre a boca, está calada, não informa, não cumpre os seus deveres". Há um dia em que há um processo, com um grau de melindre extremo, que envolve o primeiro-ministro, ministros e chefes de gabinete do primeiro-ministro e outras pessoas da confiança do primeiro-ministro, a senhora procuradora, como acho que é seu dever, informa o Presidente da República, e emite uma nota informativa a explicar o que podia explicar, porque mais do que aquilo não pode dizer, e agora é criticada porque abriu a boca e fez cair o Governo", critica.
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Já sobre a escolha da PGR da PSP ao contrário da Polícia Judiciária para a realização das buscas, Manuel Soares defende que esta opção "deve ser explicada" e lembra os investimentos avultados que foram feitos para a que a PJ tivesse à sua disposição os meios de combate à corrupção e crimes económico-financeiros. "O Estado tem uma PJ com um departamento especializado no combate a corrupção e na investigação da criminalidade económico-financeira, com centenas de inspetores, com uma máquina montada experimente a nível nacional. Portanto, se nós, com os nossos impostos, pagamos uma polícia para ter esta competência e a polícia é competência. Se num caso A ou B, prescinde-se de recorrer a outra, isto precisa de ser explicado", defende o juiz desembargador.
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A Operação Influencer deixou o país em suspenso, com uma crise política, depois da demissão de António Costa. Questionado sobre qual o futuro do setor da Justiça, Manuel Soares alerta a classe política. Nesta entrevista à TSF, lembra que "com maioria absoluta", o Governo ou e Ministério da Justiça, apesar do dinheiro disponível do PRR, "até agora nunca se preocupou com nada". Mas, alerta Manuel Soares, "de repente, há investigações sobre ministros e agora anda tudo a dizer, da área do Governo, 'não não, temos de mudar a Justiça de alto abaixo'".
