"É comer torradas com manteiga todos os dias." Trabalhadores protestam contra aumento do custo de vida
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Os trabalhadores saíram esta quarta-feira às ruas de Lisboa e Porto para se manifestarem contra o aumento do custo de vida em Portugal. O protesto foi marcado pela CGTP e leva os manifestantes desde o Cais do Sodré até à Assembleia da República para marcado o dia nacional de luta da central sindical.
A manifestação conta com a presença de centenas de pessoas e os discursos, nomeadamente o da secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, são esperados no final, junto ao Parlamento. Noutros pontos do país decorrem mais manifestações, concentrações, greves e plenários de trabalhadores.
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Filipe Francisco, operário com 12 anos de experiência profissional numa empresa do setor privado, fez questão de marcar presença e levou adereços.
"Este tacho está vazio e é aquilo com que a gente lida. Os trabalhadores têm trabalhado, mas a empobrecer diariamente. É o meu caso, em que o aumento do custo de vida tem levado aos aumentos de preço. É o que é. É comer torradas com manteiga e chá quase todos os dias, porque não dá para as despesas nem da habitação", explica à TSF o operário.
O manifestante conta que a vida pessoal está a ser muito afetada pela inflação: "Eu próprio estou em insolvência. A família entrou em insolvência com o aumento das taxas de juro. Tive de fazer uma datação ao banco. Dei a minha casa ao banco para indemnizar os prejuízos e agora tenho de cumprir a minha pena, o meu calcário, até ao fim à espera de um restart fresh que tarda em aparecer."
Além do tacho, Filipe Francisco transporta ainda um saco, também ele vazio.
"Trago também um saco vazio de uma grande distribuidora a representar o IVA Zero. São os produtos que baixaram esta semana. Tenho aqui o saco cheio desses produtos. Um saco cheio de nada e um tacho cheio de coisa alguma", lamenta.
Noutro ponto do desfile está Susana Gaudêncio, uma funcionária pública que trabalha desde os 12 anos.
"Foi uma crise. Os funcionários públicos são os sacrificados. Passaram de bons a maus, somos todos maus neste momento. Inclusivamente, a classe médica e enfermeira, os docentes. Passámos todos de muito bons a muito maus", critica em declarações à TSF.
Para a funcionária pública, as prioridades são "voltar a ter carreiras, voltar a ter uma profissão".
"Neste momento, sou assistente administrativa, como chamam, mas na realidade a minha profissão é técnica profissional de gestão de ambiente. Era uma carreira profissional e essa carreira desapareceu já há uns anos. Fomos altamente prejudicados, quer na evolução da carreira, quer na continuidade de uma profissão", afirma Susana Gaudêncio.
Ao longo do dia são várias as greves em várias empresas. Um pouco por todo o país, fazem-se manifestações e plenários de trabalhadores. A CGTP reivindica um aumento dos salários de todos os trabalhadores de 10% e pelo menos 100 euros, bem como a subida do salário mínimo para os 850 euros como medidas para combater o aumento do custo de vida.
Isabel Camarinha pede redução de lucros dos bancos e "inversão" de políticas
A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, pede ao Governo para tomar medidas de forma a ajudar as famílias no pagamento das prestações das casas, em contraponto com os lucros que os bancos têm apresentado este ano.
"Temos assistido a uma coisa que é muito grave: os cinco maiores bancos do nosso país tiveram, no primeiro trimestre deste ano, 900 milhões de euros de lucros, quando estão a fazer incidir sobre as prestações dos empréstimos o aumento das taxas de juro. Então, o Governo não tem de tomar medidas para garantir que não é às famílias que pesa este aumento das taxas de juro e que os bancos lucrem um bocadinho menos e garantam que as pessoas fiquem com casa, em vez de poderem ser postas na rua como pode acontecer", disse Isabel Camarinha à TSF, no final da manifestação contra o aumento do custo de vida.
