"É difícil diminuir a taxa de parto pré-termo." Um em cada dez bebés nasceu prematuro em 2020
Pouco mudou no espaço de uma década.
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Em 2020, um em cada dez bebés nasceu prematuro. Uma redução de apenas 0,14% face ao ano de 2010. A estimativa é revelada num estudo da revista Lancet assinado por especialistas da Organização Mundial de Saúde, do Fundo das Nações Unidas para a Infância.
Luís Graça, antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e ex-presidente do colégio de obstetrícia da Ordem dos Médicos, considera muito difícil reduzir esta taxa, uma vez que a gravidez, em muitos casos, é vivida cada vez mais tarde.
"Desde os anos 70, pelo menos é aquilo que conheço, a taxa de parto pré-termo mantém-se mais ou menos na mesma. Até pode ter aumentado um bocadinho porque as mulheres cada vez engravidam mais tarde e, portanto, a probabilidade de acontecerem complicações médicas da gravidez, seja a hipertensão arterial, seja a diabetes, seja a restrição do crescimento fetal intrauterino, tudo isso são condicionantes para que o parto se dê antes das 37 semanas. Daí que é muito difícil de, neste momento, se conseguir - pelo menos estou a falar nos países da OCDE, Estados Unidos e Canadá - diminuir esta taxa de parto pré-termo", explicou à TSF Luís Graça.
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O especialista explica que os partos entre as 35 e as 37 semanas de gravidez são considerados de baixo risco, mas não estão fora de perigo.
"Se o parto prematuro coincidir com uma restrição do crescimento do feto, tudo isto pode condicionar alterações para o desenvolvimento psicomotor do bebé, mas também o parto, depois entre as 35 e as 37 semanas, continuando a considerar-se como parto pré-termo, as implicações para a saúde do bebé são relativamente poucas. Agora, antes das 35 semanas, aí o risco de haver uma dificuldade psicomotora do recém-nascido é muito grande. Para a mulher, o risco, se não houver complicações médicas da gravidez, é relativamente baixo. É claro que uma mulher que tem um parto pré-termo vai ter maior tendência para ter outro parto pré-termo no futuro, numa segunda gravidez. O principal fator de risco do parto pré-termo é ter havido um parto pré-termo antes numa gravidez anterior", acrescentou o antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia.
Neste estudo publicado na revista Lancet os especialistas defendem que é urgente reforçar os cuidados prestados aos bebés prematuros, bem como os esforços de prevenção destes casos e alertam para a necessidade urgente de um investimento sério nos serviços de saúde de modo a garantir o acesso a cuidados de qualidade antes e durante a gravidez.