A deputada Joacine Katar Moreira, que viu ser-lhe retirada confiança política pelo Livre, participou numa manifestação contra o racismo que juntou três centenas de pessoas em Lisboa.
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Cerca de três centenas de pessoas desceram este sábado a Avenida da Liberdade, em Lisboa, para protestar contra a "violência policial" e pedir justiça para a mulher alegadamente agredida pela polícia na Amadora.
"Racismo e fascismo não passarão" e "direitos iguais", foram algumas das palavras de ordem proferidas pelos manifestantes, durante o percurso entre a rotunda do Marquês de Pombal e o Rossio, sempre acompanhado por um forte contingente policial.
Esta ação de protesto foi convocada por vários movimentos e associações antirracistas, entre elas o SOS Racismo, Instituto da Mulher Negra em Portugal, Brutalidade Policial, Consciência Negra, Frente Antifascista, Djass - Associação de Afrodescendentes.
No local estiveram a deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Dias, a ex-deputada comunista Rita Rato e Joacine Katar Moreira.
Joacine Katar Moreira, que viu ser-lhe retirada confiança política pelo partido na semana passada, discursou junto ao Rossio, onde defendeu justiça para Cláudia Simões, a mulher que se queixa de ter sido agredida por um agente da PSP.
https://www.facebook.com/KatarMoreira/videos/vb.1999121590216597/633098317458219/?type=2
"A Cláudia Simões é o exemplo pelo qual não devemos estar sossegados", disse a deputada, que agora passou à condição de não-inscrita. Num discurso gravado com um smartphone e publicado na sua página pessoal do Facebook, Joacine Katar Moreira vincou que o país não deve esquecer os valores de Abril e instou a sociedade a lutar contra o fascismo e o racismo. A deputada, nascida na Guiné-Bissau, comentou ainda as declarações polémicas de André Ventura, do Chega.
"Não vou permitir que ninguém me diga que eu não estou onde devia estar. Eu nasci para estar ali [Parlamento]. O que está em causa é a saúde da nossa sociedade. E essa saúde está a mostrar-se muito fragilizada porque nós toleramos o racismo constantemente. Temos de garantir que nenhum racista se sinta à vontade. Foi para isso que se fez o 25 de abril", disse. "É normal os fascistas mandarem-me para a minha terra", questionou a deputada.
Nas entrelinhas de um discurso fortemente aplaudido, Joacine Katar Moreira deixou ainda recados ao Livre, que lhe retirou a confiança política. "A mim interessa-me quem votou em mim, interessa-me quem torce por mim, interessa-me estar a defender aquilo pelo qual fui eleita, com confiança de uns e desconfiança de outros", atirou.
Em declarações aos jornalistas, a deputada bloquista afirmou que "os recentes casos envolvendo a PSP e a comunidade africana não podem ficar sem resposta".
"É extremamente olhar para eles como são. Casos de violência racista, na medida em que eles afetam de uma forma bastante desproporcional pessoas provenientes das comunidades racializadas", sublinhou Beatriz Dias.
Presente na manifestação esteve também a mãe de Cláudia Simões, a mulher que foi detida há duas semanas na Amadora pela PSP e que diz ter sido agredida por um polícia.
"O regime tem de mudar. A minha filha não é um animal. Ela nem sequer consegue sair de casa. Só quero que se faça justiça", afirmou, de forma emocionada, Maria Simões.
Além de Cláudia Simões, os participantes neste protesto evocaram o nome de Giovanni Rodrigues, jovem cabo-verdiano que perdeu a vida em Bragança, em dezembro do ano passado, e de Alcindo Monteiro, assassinado em 1995 em Lisboa por um grupo de extrema direita.
A manifestação terminou no Largo de São Domingos, na zona do Rossio, com intervenções de vários ativistas antirracistas, não se tendo verificado quaisquer incidentes.