É o relógio mais completo do mundo. Está parado, mas quer ser património da humanidade
"Uma obra misteriosa, o mundo inteiro dentro de um relógio". A frase está em destaque num dos topos do Rijomax e resume os segredos e funcionalidades deste objeto, criado por um relojoeiro em Tabuaço, no distrito de Viseu, no século passado.
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"É o relógio mais completo do mundo. Ele foi construído pelo senhor Amândio José Ribeiro, entre 1945 e 1973, ou seja, demorou 28 anos a construir", começa por explica à TSF Marco Penela, técnico da Câmara Municipal de Tabuaço. Desde 2002 que a autarquia expõe no Posto de Turismo da sede do concelho esta verdadeira obra de arte, que foi criada a partir de materiais reciclados.
"Rijomax" é um acrónimo do nome do criador do relógio. "Ri de Ribeiro, o Jo de José, o Ma de Amândio e o X é para dar aquela pronúncia de marcas de relógio como Timex e Rolex", salienta Marco Penela.
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O objeto é composto por quatro módulos, tem dois metros de altura e mais de 16 mil algarismos e letras. Dispõe, ao todo, de 36 funcionalidades.
Entre outras funções, marca os segundos, os minutos, as horas, os dias, os meses, mas também aponta todos os santos de cada dia do ano, os semestres e trimestres, as estações do ano, os signos, os solstícios e equinócios. Faz a previsão do tempo, tem um termómetro, um despertador e as horas em todos os pontos do mundo.
Foi no ano 2000 que a Câmara de Tabuaço comprou o intitulado relógio mais completo do planeta. Só dois anos mais tarde, com a morte do seu criador, é que a autarquia o foi buscar à oficina onde se encontrava e desde essa altura que nunca mais funcionou.
"Quando o fomos buscar, ele trabalhava. Fez-se o transporte para aqui [para o Posto de Turismo] numa distância de cerca de 500 metros e, quando se colocou e voltou a ligar à eletricidade, o relógio nunca mais funcionou", conta Marco Penela, acrescentando que "logo na altura se fizeram várias tentativas com alguns relojoeiros antigos que eram colegas do senhor Amândio, mas ninguém conseguiu" voltar a pôr a trabalhar o relógio.
"A última tentativa foi há seis ou sete anos. Veio um relojoeiro suíço que nos disse que era muito complicado colocar o relógio a funcionar porque era um mecanismo muito complexo", detalha.
Apesar do relógio estar avariado, quem passa por Tabuaço não deixa de dar uma saltada ao Posto de Turismo para apreciar aquele que já é considerado um "ex-líbris" do concelho.
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"Tem-nos trazido tantos visitantes e turistas que passam a palavra sobre o Rijomax e [as pessoas] acabam por voltar", adianta Clara Martins, funcionária da autarquia, realçando que os turistas "ficam perplexos com a complexidade do relógio".
O interesse crescente por este património levou a Câmara de Tabuaço a avançar com o restauro e limpeza do objeto, numa operação que está a ser realizada por técnicos do Museu do Douro.
Desde o início de fevereiro que, uma vez por semana, dois profissionais andam à volta do relógio. Já fizeram uma primeira limpeza, mais geral, e agora estão a realizar trabalhos mais "afinados".
"A limpeza não é só limpar o pó", afirma Carlos Mota, salientando que nesta operação os técnicos têm que ter em atenção os materiais usados para limpar, para não danificar a obra de arte. Para além disso, estão a ser colados os elementos que se soltaram com o passar do tempo.
"Estamos a avançar para uma limpeza mais afinada e em algumas zonas estamos a utilizar uma mistura de solventes, noutras uma borracha vulcanizada. É muito difícil avançarmos com uma intervenção nesta diversidade de materiais: temos acrílicos, metal, papel, plásticos, vidro, madeira, aglomerado. Estamos a falar de um objeto complexo", remata.
Depois de concluída a intervenção em curso, que está orçada em 15 mil euros, a ideia do município é deslocar o Rijomax para o Museu do Imaginário Duriense, também no centro da vila de Tabuaço, onde irá ganhar outro protagonismo.
A Câmara Municipal sonha ainda colocar o relógio na lista de património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e já está a trabalhar nesse sentido.
"É um dos principais objetivos do atual executivo. Vamos, pelo menos, tentar uma candidatura e esperamos ter o apoio da Direção Regional da Cultura do Norte. É um processo que ainda vai ser demorado, mas, pela obra que temos aqui, acho que podemos tentar e esperamos que tenhamos resultados", conclui Marco Penela.