"É uma vergonha?" O dia em que os partidos não deixaram o Chega a falar sozinho
Desta vez André Ventura trocou a palavra "vergonha" por escândalo para disparar em várias direções, mas teve quatro pedidos de esclarecimento, por onde passaram os casos polémicos que envolvem o Chega.
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Foi ao mais alto nível de quatro bancadas que chegaram os pedidos de esclarecimento ao deputado único do Chega: Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, Cecília Meireles que dirige a bancada do CDS, Inês de Sousa Real que preside ao grupo parlamentar do PAN e Pedro Delgado Alves, vice-presidente da bancada socialista escolheram, desta vez, não deixar em branco a intervenção de André Ventura.
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O deputado do Chega tinha subido à tribuna, utilizando a terceira das cinco declarações políticas que agora vai ter para disparar, ao seu estilo, em várias direções. Sobre o Orçamento de Estado, Ventura acusou a esquerda de ter "sempre a mesma desculpa" e usar "o mesmo nome Pedro Passos Coelho" para responsabilizar quando algo corre mal. Sobre o facto de o Governo socialista assumir o combate à corrupção, o deputado do Chega ironizou: "Será que estou a ver bem?" questionou, olhando em volta, "será que há um ex-primerio-ministro, deixa cá ver... do Partido Socialista, a ser julgado por corrupção e chegam aqui com o maior desplante que estão na luta contra a corrupção?"
Pelo PS, Pedro Delgado Alves recordou que os dados apresentados por André Ventura sobre a falta de cumprimento de metas contra a corrupção estão desatualizados porque, entretanto, já foram tomadas medidas. "Estudasse, Sr deputado!", ironizou o socialista, sendo aplaudido por deputados do Bloco de Esquerda.
Sobre a referência a Passos Coelho, Pedro Delgado Alves desafiou Ventura a dizer "onde militava durante o tempo dos cortes", numa alusão ao facto de o hoje líder do Chega ter sido militante do PSD, tendo sido eleito vereador na Câmara de Loures pelo partido.
"Eu nunca escondi onde militava, nem o partido a que pertenci", respondeu Ventura.
E se na intervenção, André Ventura tinha feito referência ao episódio de confronto com Ferro Rodrigues, afirmando que estes são "tempos em que a liberdade de expressão é colocada em causa", o PS defendeu que "é uma obrigação de todos respeitar a dignidade da Assembleia e dos deputados" e que as sessões plenárias devem acontecer "sem exagero, sem simplificação, sem falta de rigor".
A interpelação mais dura partiu do Bloco de Esquerda com o líder parlamentar do BE a citar casos de "uma vergonha na democracia" em que o Chega está envolvido.
"Quando nós aqui acabámos com o regime de pensões vitalícias que, de facto, eram uma vergonha para o regime democrático, eu queria que em explicasse porque é que o seu porta-voz nacional, um dos beneficiários deste regime de pensão vitalícia, Sousa Lara, foi por essa alteração legal que deixou de receber porque, por ele, continuaria a receber. Considera que isto é uma vergonha senhor deputado?", perguntou Pedro Filipe Soares que apontou ainda o facto de um candidato do Chega às eleições europeias ser "arguido por ter alegadamente montado um esquema para sacar dinheiro ao Estado".
Entre as questões colocadas pelo Bloco de Esquerda a André Ventura, esteve ainda o facto de "a Polícia Judiciária lhe ter batido à porta para lhe fazer perguntas no âmbito do caso "Tutti Frutti" para perguntar se o senhor deputado estava ou não envolvido na contratação de um assessor fantasma para, alegadamente, desviar dinheiro público para um saco azul partidário, levando a cabo aquilo que pior existe nas práticas partidárias nacionais".
O deputado do Chega não respondeu diretamente às questões mas garantiu que que levou a cabo uma campanha para apelar a desistências no recebimento de subvenções vitalícias e contra-atacou com o caso de Ricardo Robles.
"Quando quiser falar de Polícia Judiciária, de tribunais, lembre-se sempre deste nome, durma com ele, Robles, durma com ele", respondeu Ventura.
No debate, o PAN quis saber da disponibilidade do Chega para medidas de reforço ao combate à corrupção e a deputada Cecília Meireles, do CDS, embora considerando que "todos os deputados devem ser tratados com o mesmo respeito" acabou a recordar ao Chega que os deputados não são "eleitos apenas para protestar, mas para resolver", e que, até agora, o CDS não tem encontrado propostas por parte de André Ventura.