Elevador da Glória: BE/Lisboa quer saber se Moedas ainda confia na administração da Carris
As “falhas gravíssimas na manutenção, supervisão e segurança do sistema, incluindo a utilização de cabos não certificados”, revelados no relatório “apontam para uma incapacidade total da Carris de garantir a segurança dos passageiros e para uma preocupante falta de transparência por parte da presidência da Câmara”
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O BE na Câmara de Lisboa questionou esta terça-feira o presidente da autarquia, Carlos Moedas, sobre se ainda mantém a confiança na administração da Carris, apesar das “inadmissíveis” falhas “gravíssimas” reveladas num relatório sobre o acidente do Elevador da Glória.
Num comunicado, o BE de Lisboa informa que a vereadora Beatriz Gomes Dias apresentou um requerimento para exigir “esclarecimentos e ações imediatas” na sequência do relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) sobre o acidente com o ascensor da Glória, que causou a morte de 16 pessoas.
Segundo a vereadora, as “falhas gravíssimas na manutenção, supervisão e segurança do sistema, incluindo a utilização de cabos não certificados”, revelados no relatório “apontam para uma incapacidade total da Carris de garantir a segurança dos passageiros e para uma preocupante falta de transparência por parte da presidência da Câmara”.
Nesse sentido, a vereadora exige ser esclarecida sobre se o presidente da Câmara, Carlos Moedas, mantém a “confiança na atual administração da Carris”.
No requerimento, o Bloco na Câmara de Lisboa pede também uma “revisão técnica e legal urgente dos sistemas de transporte histórico da cidade”, o “reforço dos procedimentos internos da Carris, com foco na segurança”, e a concretização de um sistema de “supervisão técnica independente, em articulação” com o Governo e o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT).
O BE exige ainda a Carlos Moedas “transparência na comunicação com os munícipes e divulgação pública das medidas corretivas”, além de “garantia de certificação técnica antes da reposição de qualquer equipamento em funcionamento”.
O Bloco acusa também o presidente da Câmara de Lisboa de ter ignorado alertas da comissão de trabalhadores da Carris e de “falta de transparência”, não tendo prestado “esclarecimentos em reunião de câmara realizada a 13 de outubro, após as eleições autárquicas”.
O acidente com o elevador da Glória, ocorrido em 3 de setembro, causou 16 mortos e cerca de duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
Num relatório preliminar às causas do acidente, a que a Lusa teve acesso, o GPIAAF apontou, nomeadamente, falhas à Carris, à manutenção e à supervisão.
O relatório preliminar do GPIAAF revela que o cabo que unia as duas cabinas do elevador da Glória e que cedeu no seu ponto de fixação da carruagem que descarrilou não respeitava as especificações da Carris, nem estava certificado para uso em transporte de pessoas.
Este organismo público detetou falhas e omissões na manutenção do ascensor, apontando também a falta de formação dos funcionários e de supervisão dos trabalhos efetuados pela empresa prestadora do serviço.
O GPIAAF diz, por exemplo, que as inspeções previstas para o dia do acidente “estão registadas como executadas, embora detenha evidências de que não foram feitas no período horário indicado na correspondente folha de registo”.
Aquele gabinete recomenda ainda à Carris que não reative os ascensores de Lisboa “sem uma reavaliação por entidade especializada”, e ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes que implemente um quadro regulamentar apropriado.