É fácil perceber o porquê de tanta gente se mostrar preocupada com os fogos que atingem a serra de Monchique por estes dias: entre condições atmosféricas favoráveis à propagação e reacendimentos constantes, difícil é perceber como parar este incêndio.
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Entre Proteção Civil, Fuzileiros, Sapadores Bombeiros de várias regiões do país, voluntários e habitantes locais não há mãos a medir no que toca a fazer parar um incêndio que já lavra há cinco dias.
E tudo serve para o combate às chamas. Desde maquinaria pesada até um simples ramo de árvore improvisado, tudo é válido na reposição de uma esperança que está a demorar mais do que era suposto.
Na localidade de Fóia, a pouco mais de três quilómetros da vila de Monchique, as chamas "vivem" paredes meias com as habitações, tendo algumas acabado por ceder à força de um poder que se sobrepõe ao humano.
José, bombeiro há mais de 13 anos, diz que nunca viu um fogo comportar-se desta maneira: "Mesmo quando estava a cumprir o serviço militar, cheguei a combater incêndios, mas nada igual a isto", desabafa, enquanto prepara várias mangueiras e põe um motor a bombear água para dentro do carro de bombeiros.
O resistente de Fóia
As casas já se encontram desocupadas por ordem da Proteção Civil. No entanto, algumas piscinas servem de base de abastecimento para encher tanques de veículos de socorro e de referência de pontos de água tão importantes numa serra com tantas zonas de difícil acesso.
Armindo tem 75 anos e vive em Fóia desde sempre - é um resistente. Com a ajuda dos netos que também são bombeiros, já tinha o perímetro de casa todo regado antes da primeira ajuda ter chegado.
Com um lenço a proteger-se do ar quente e das fagulhas que circulam pelo ar, teima em ficar de olhos abertos para assistir a um "filme"que pensou já não ter de assistir novamente. "Há dois anos, ele também por aqui andou, hoje volta e quer levar o que não levou antes", exclama, enquanto vê uma estalagem a ser consumida em poucos minutos.
As antenas situadas no alto da encosta, conhecida como "Belém", ainda correram o risco de arder, mas o esforço dos operacionais e da Força Especial de Bombeiros, conhecidos como "canarinhos", foi fundamental para controlar a situação.
Sendo a direção para onde as chamas seguem uma incógnita, será difícil perceber quando termina esta agonia. Mais fácil é compreender que quem por ele teve de passar não ficará indiferente.