No Dia Mundial do Cancro, que se assinala esta quinta-feira, os especialistas aconselham os portugueses a olhar atentamente para o maior órgão do corpo, a pele
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"I've got your back". A expressão na língua inglesa traduz na perfeição as recomendações da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC), tanto no sentido literal como figurado. Eu olho pelas tuas costas, cuido de ti, protejo-te contra um inimigo que podes não conseguir ver. Numa altura em que todos passamos mais tempo em casa com a família, é preciso olhar para as costas, e não só, daqueles que amamos.
O autoexame é essencial na prevenção do cancro cutâneo, diz à TSF o presidente da APCC, João Maia Silva. Em confinamento, recomenda-se um olhar atento a sinais de alerta na própria pele e na dos outros membros da família.
O que procurar? Um 'patinho feio', isto é, "um sinal diferente de todos os outros que tenha no corpo" com uma cor, tamanho ou textura diferente dos demais. Também uma forma assimétrica, uma cor que não é uniforme ou um bordo irregular, assim como um diâmetro superior a 0,6 milímetros, devem levantar suspeitas.
Outro fator a ter em conta é a alteração de aspeto. O especialista João Maia Silva recomenda que se tirem periodicamente fotografias a sinais na pele com ajuda de uma régua, colocada ao lado do sinal. Pode ser uma atividade em família, sugere. Documentar os sinais de cada um e procurar diferenças - se o sinal cresceu em tamanho ou mudou de cor, por exemplo. Afinal, "tiramos fotografias a tantas coisas, porque não aos nossos sinais?"
Outros sinais de potencial alarme: feridas que parecem não sarar com a passagem do tempo, crostas que não cicatrizam, lesões com comichão ou dor.
Os cancros da pele não-melanoma, incluindo o carcinoma basocelular ou basalioma e o carcinoma espinocelular, são os mais frequentes: em Portugal estima-se que representem 4,3% de todos os cancros detetados. São habitualmente menos perigosos, mas podem resultar num mau prognóstico se não forem tratados precocemente.
E se encontrar algum sinal e mancha suspeito? "Agir de imediato", apela o presidente da APCC, consultando o médico assistente ou um dermatologista. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor o prognóstico.
No caso do melanoma, por exemplo, o cancro de pele menos frequente, mas também o mais agressivo, o tempo é fator determinante. Quando diagnosticado e tratado precocemente permite taxas de cura de mais de 95%, mas tem um crescimento muito rápido a probabilidade de sobrevida aos cinco anos é inferior a 50%.
O medo de ir ao hospital devido à pandemia, ainda que legítimo, não deve travar a procura de ajuda médica por parte de quem encontrou um sinal suspeito, reforça o especialista. Mas acontece. João Maia Silva recorda o caso de uma mulher que lhe pediu se podia encontrar-se com ela na rua, à porta do hospital de Santa Maria, para que o médico pudesse avaliar uma lesão que esta tinha na face. Não era nada de grave, o caso podia ser tratado mais tarde, mas enfrentar o medo e procurar ajuda foi indiscutivelmente o melhor a fazer.
O cancro é a doença que mais preocupa os portugueses, mais do que a Covid-19, segundo um estudo da GFK Metris para o Expresso. No entanto, mais de mil cancros do colo do útero, da mama e do colorretal terão ficado por diagnosticar devido a condicionamentos associados à pandemia, estima a Liga Portuguesa Contra o Cancro.
E depois do confinamento? Com a chegada do tempo quente, o especialista João Maia Silva alerta ainda para um cuidado especial nas saídas de casa. Como passamos mais tempo entre quatro paredes, a pele está menos preparada para doses elevadas de radiação solar. Já as pessoas que apesar da pandemia continuam a trabalhar no exterior, como pescadores e agricultores, devem ter, como sempre, cuidados acrescidos na exposição solar.
O cancro é a segunda causa de morte em Portugal - responsável por quase 29 mil óbitos anuais - e representa uma em cada seis mortes no mundo.