A tradição era seguir o calendário Juliano que comemora a data a 7 de janeiro.
Corpo do artigo
Aos domingos a igreja de Santo António do Alto, em Faro, é pequena para acolher tantos ucranianos. Na sacristia da igreja, o padre Oleg Trushko mostra a fotografia que está colocada sobre o altar. É a de um jovem piloto ucraniano morto em combate, cuja família mora no Algarve. Todos os dias ouve histórias de angústia, de pessoas que têm os seus amigos ou familiares na guerra.
O padre está há 16 anos em Portugal, mas ainda fala mal português. Diz a brincar que as mulheres ucranianas são mais inteligentes e aprendem melhor a língua. Não será, no entanto, esse o impedimento para a conversa.
TSF\audio\2022\12\noticias\23\maria_a_casaca_natal_ucraniano
Este ano, Oleg Trushko vai celebrar a missa de Natal num dia diferente do habitual. Os ucranianos, que pertencem à igreja greco-católica, fizeram questão de romper com o calendário seguido pelos ortodoxos russos, que celebram o dia de Natal a 7 de janeiro. Noutros locais do país, já o faziam há cerca de dois anos, mas no Algarve será a primeira vez.
Oleg Trushko considera que a guerra foi a grande alavanca para a mudança. "O povo ucraniano não quer o calendário igual ao do invasor, que bombardeia as nossas cidades e aldeias", afirma com convicção. Na Ucrânia, há ainda muitos locais onde se segue o antigo calendário Juliano, mas o padre acredita que, com a invasão russa, essa situação vai mudar. Explica que, pelo anterior calendário, o Ano Novo vinha primeiro do que o Natal e era também difícil aos católicos ucranianos seguirem os ditames da igreja e ficarem 40 dias sem comer carne antes do Natal.
Apesar da guerra, o pároco, que se divide por cinco paróquias algarvias onde reside maior número de ucranianos, acredita que o seu povo tentará manter as tradições: não comer carne, nem beber álcool, colocar 12 pratos de comida diferentes na mesa e ensaiar muitos cânticos religiosos.
Os ucranianos, que seguem o ritual bizantino nas suas celebrações, celebram a missa durante mais de duas horas e com muitos cânticos. Neste Natal, as preces não serão diferentes de todos os outros domingos. O pedido é só um. "Pedimos pela paz na nossa terra, queremos acabar com esta guerra."