
Rui Manuel Fonseca/Global Imagens
Evento ‘Women’s Traditional Fire Training Exchange (WTREX)’ decorre, até amanhã, em Paredes de Coura, com 45 participantes de 21 nacionalidades, em prol da igualdade de género.
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O evento ‘Women’s Traditional Fire Training Exchange (WTREX)’, juntou pela primeira vez em Portugal, 45 participantes, na sua maioria mulheres, de 21 nacionalidades, em prol da igualdade de género nas profissões ligadas ao sector da gestão florestal e prevenção de incêndios.
À iniciativa, que decorre até amanhã no Alto Minho, com treino de ações de fogo controlado em florestas de Valença e Paredes de Coura, deverá seguir-se a realização de “um diagnóstico nacional” da presença feminina nas áreas, que envolvem lidar com fogo.
“Para além do WTREX, outra coisa que pretendemos fazer na nossa agenda para a igualdade de género dentro do sistema de gestão integrada de fogos rurais, é precisamente um diagnóstico nacional”, declarou Soraya Imperial, perita coordenadora da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), adiantando que o objetivo é “conseguir ir a todas as dezenas de instituições que existem no país que contactam com o fogo e com a prevenção de incêndios, e diagnosticar, perceber, quantas [mulheres] são, quem são, quais os seus perfis e que nos contem os seus problemas”.
De acordo com Soraya Imperial, o evento levado a cabo desde 1 de fevereiro até amanha (10 de fevereiro), com a colaboração da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho e do município de Paredes de Coura, contou com participação de mulheres sapadoras, da Proteção Civil, técnicas de gabinetes florestais, do ICNF, da GNR, Polícias Judiciária, e investigadoras, além de várias brigadas e equipas profissionais de prevenção e combate a incêndios estrangeiras. E permitiu, além da troca de experiências sobre técnicas de aplicação de fogo controlado em meio rural, identificar dificuldades comuns que estas sentem em vários pontos do globo.
“Sabemos que existem pessoas que têm esta resistência de ‘porque é que ainda falamos de igualdade de género hoje em dia, porque as mulheres podem fazer tudo o que querem?’, mas a verdade é que recolhemos aqui contributos e testemunhos, que revelam que não será bem assim e que nos podem ensinar a fazer melhor daqui para a frente”, afirmou aquela responsável da AGIF, indicando que “no primeiro dia [do evento] as mulheres começaram a conversar e todas tinham algum problema com o seu uniforme, que não lhe assentava na anca ou na barriga, porque não estava adequado ao corpo feminino”. Soraya Imperial referiu ainda que, segundo uma participante do Brasil no WTREX, naquele país o Governo estará já a providenciar a distribuição de fardas para mulheres do sector.
Reinaldo Lourival, diretor executivo do Instituto Terra Barsilis, que trabalha com populações indígenas no Pantanal e na Amazonia, participou no evento, juntamente com outros homens, e afirma que, também no Brasil, “existe um esforço para a valorização de género, porque existe um desequilíbrio muito grande nas brigadas anti-incêndio”. “Há essa ideia do pai de família, mas defendemos que há muitas mães de família que precisam trabalhar e que gostam deste tipo de trabalho”, refere, enaltecendo o evento que decorreu no Alto Minho, onde lidou com mulheres “do Equador, da Islândia, da Austrália”, entre outras, com o propósito de trocar experiências sobre técnicas de aplicação do que chama de “fogo gentil”, como “ferramenta de manejo do ecossistema”.
Marinha Esteves, do Gabinete Técnico florestal da Comunidade Intermunicipal do Cávado, prefere ver-se como “uma mulher de terreno”. “Sou técnica em fogo controlado e esta participação serviu para relembrar alguns conceitos e aplicar as técnicas de fogo que aprendi”, disse, comentando que “é importante que mulheres e homens consigam trabalhar em conjunto da melhor forma, uns com umas habilidades, outro com outras”.
Também Sandra Estevães, saiu do gabinete [está ligada à organização], para contactar, pela primeira vez, de perto, com as chamas.
“Sei as vantagens do fogo frio, controlado, proscrito, como olhe chamam. Não sou técnica de fogo, tinha e tenho medo dele, nunca tinha pegado num pinga-lume, nem estado no meio de uma parcela onde estavam a trabalhar e aqui coloquei-me esse desafio. Foi uma aprendizagem”, descreveu.
