Emergência médica. Num momento de "exaustão", Forças Armadas "surpreendidas" por mais uma responsabilidade
No Fórum TSF, a Associação dos Oficiais das Forças Armadas espera que os militares não venham a ser responsabilizados por dificuldades na emergência médica com recurso aos helicópteros da Força Aérea. Já a Ordem dos Médicos diz que a Saúde está com "histórias miseráveis"
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O comandante Rodrigues Marques, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), revela, no Fórum TSF, que sentiu "apreensão e surpresa" quando soube que o transporte de emergência médica competiria à Força Aérea Portuguesa, num momento em que os militares "se encontram exauridos".
Questionando sobre a preparação que os efetivos terão para efetuar este auxílio "de importância vital", o líder da AOFA garante: "É seguro afirmar que em determinadas situações o socorro pode ficar comprometido.". Nesse contexto, espera que "não sejam atiradas ou sacadas sobre os militares quaisquer responsabilidades".
Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM) fala num "retrocesso" de pelo menos uma década após o ministro da Defesa ter garantido que havia quatro helicópteros da Força Aérea disponíveis 24 horas para a emergência médica, mas só um pode assegurar o serviço durante a noite, sendo que nem pode aterrar em todos os hospitais. Carlos Cortes considera que a Saúde em Portugal "está cada vez pior, com contornos absolutamente inaceitáveis e histórias miseráveis".
Além do problema no socorro por via aérea, as dificuldades na assistência às grávidas continuam devido às urgências encerradas — o caso mais recente é o de uma grávida do Barreiro que não teve assistência nos hospitais da Península de Setúbal e o bebé acabou por morrer antes de chegar ao hospital de Cascais. No meio de tudo isto, o bastonário da OM tira uma conclusão: "A Direção Executiva do SNS não serve para nada."
Voltando à crise nas urgências, Carla Santos, presidente do Observatório de Violência Obstétrica, assinala que há "uma falha absoluta de investimento que vai levar a que não existam cuidados fundamentais" e, a partir daí, começa a formar-se a bola de neve: "sem cuidados de proximidade, a população vai andar nas urgências" e, consequentemente, ficam "sobrecarregadas". E tudo isto afeta as grávidas. Pelo estado em que está a Saúde, Carla Santos conclui que "o SNS está em risco" com o Executivo de Montenegro, que apresenta medidas "miseráveis" para esta área.
Já o presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes, refere que falta responsabilizar quem manda e mostra preocupação com a "sanidade mental" dos profissionais que representa. Na leitura de Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, esta questão dos helicópteros resume-se em falta de planeamento.
Por fim, a líder da Federação Nacional dos Médicos, Joana Bordalo e Sá, enaltece "todos os profissionais que asseguram o funcionamento do SNS, mesmo em condições extremamente adversas", e deixa a farpa ao Governo: "Apesar dos primeiros sinais de colapso nas urgências, especialmente nas áreas materno-infantis, já virem desde 2022, o agravamento tem sido evidente e constante sobre a governação do atual Ministério da Saúde de Ana Paula Martins."

