"Emigração jovem qualificada é problema do país." Maioria dos universitários do Porto pondera sair de Portugal após o curso
Em declarações à TSF, Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, admite que os dados são "preocupantes" e apela a um consenso político entre PS e PSD para resolver o problema, que considera "estrutural"
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A maioria dos estudantes do ensino superior da academia do Porto inscritos em 2023/2024 ponderam emigrar após a conclusão do curso para países com maior nível salarial, como Reino Unido ou Suíça, segundo um estudo esta sexta-feira revelado.
Os principais destinos para os quais os estudantes do ensino superior ponderam emigrar são o "Reino Unido, Suíça, Países Baixos, Alemanha e Luxemburgo", conclui um estudo do Centro de Estudos da Federação Académica do Porto (CEFAP) a que a TSF teve acesso.
À TSF, Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP, admite que os dados são "preocupantes" e que "não se trata de um problema individual". "Portugal pode perder até 95.000 milhões de euros devido à emigração jovem qualificada e isto sem contar toda a inovação e o crescimento económico que se perde. A emigração jovem qualificada não é um problema individual de cada jovem, é um problema do país. Estes 95.000 milhões de euros são um terço do PIB português e são mais 25% do que foi o montante do resgate da Troika em 2011 e, portanto, são resultados preocupantes, que apontam uma necessidade de respostas estruturais que permitam aos jovens construírem o seu próprio projeto de vida em Portugal", explica à TSF Francisco Porto Fernandes.
A Federação Académica do Porto partilhou os resultados do estudo com o Governo e apela a um consenso político entre PS e PSD para resolver o problema, que considera "estrutural".
"Nós fizemos um pedido de audiência ao Governo, à 12.ª Comissão da Assembleia da República e ao senhor Presidente da República para que possamos todos discutir estes temas. Mas a convicção da FAP é que isto é só possível, particularmente, se os líderes dos dois maiores partidos conseguirem chegar a algum consenso do rumo que queremos para o nosso país e que estratégia estrutural queremos para conseguir reter talento em Portugal", sublinha.
Os dados recolhidos pelo CEFAP indicam que mais de 73% dos estudantes inscritos em instituições do Ensino Superior da academia do Porto inscritos no ano letivo 2023/2024 “ponderam emigrar após a conclusão do Ensino Superior para países com maior nível salarial, resultando numa potencial perda líquida de 95 mil milhões de euros para o país”.
A amostra teve um total de 375 estudantes e tem uma margem de erro de 5%.
Quase 25% dos estudantes inquiridos tinham a decisão de emigrar tomada e apenas 10% assumiram que iriam permanecer em Portugal.
A maioria dos inquiridos pertencem à chamada classe média.
Os resultados obtidos não diferem com o ciclo de estudos, embora seja mais notória a vontade de emigrar nos estudantes de mestrado.
Com estes dados, a FAP considera que “Portugal corre o risco de perder dois mil milhões de euros por ano com a emigração jovem qualificada”.
O presidente da FAP, Francisco Fernandes, sublinha que a tendência da emigração qualificada verificada nos últimos anos é confirmada com o estudo do CEFAP.
“Estes dados, que confirmam a tendência, foram partilhados com o Governo e partidos políticos de forma que, juntos, se chegue a um pacto de regime e se comece a pensar na mudança e em como reter o talento no nosso país”, declarou Francisco Porto Fernandes, destacando que a “sangria de talento em Portugal terá um impacto muito negativo no país e na economia, quer pela quantidade total de potenciais saídas, quer pela duração da ausência do país”.
O estudo conclui que 36% dos estudantes aponta para uma saída de médio prazo, ou seja, entre cinco a 10 anos, e quase 30% esperam emigrar por um longo período de tempo, ou seja, de mais de 10 anos.
Apenas 33% pretendem sair por um curto período de tempo, equivalente a menos de cinco anos.
As principais razões dos estudantes para emigrarem são a busca por “melhoria dos níveis salariais e de outras condições de vida”, bem como a “possibilidade de encontrar melhores oportunidades profissionais e de carreira”, ou seja, são razões de natureza económica, associadas ao funcionamento do mercado de trabalho e da economia de Portugal.
Com base no estudo do CEFAP, a FAP avisa que Portugal “pode ter uma perda orçamental líquida de cerca de 2,1 mil milhões de euros, por ano, com a emigração de jovens qualificados”.
A provável emigração de 320 mil jovens desta geração - os tais 73% dos estudantes da academia do Porto que consideraram provável emigrar - pode vir a resultar em “perdas líquidas de mais de 95 mil milhões de euros para a economia portuguesa, ao longo de 45 ano, ou seja, cerca de 2,1 mil milhões de euros/ano, incluindo 45 mil milhões em receita de IRS, 7 mil milhões em impostos indiretos e 61 mil milhões em contribuições líquidas para a Segurança Social”, alerta a FAP.
“O facto de mais de metade dos estudantes querer emigrar vai gerar um país mais pobre, menos inovador, mais envelhecido e com grandes dificuldades ao nível das contas públicas. O impacto irá notar-se a nível demográfico, com o envelhecimento da população, que acentuará o impacto negativo nos domínios da inovação e do empreendedorismo e poderá levantar problemas adicionais à sustentabilidade da Segurança Social”, acrescenta.
Entre o total de inquiridos, 72% são do sexo feminino e 26% do sexo masculino, 77% são estudantes, 18% trabalhador-estudante, 4% trabalhadores e 1% desempregados.
