"Empecilhos vieram da direita", mas PS não precisa de "professores de esquerda"
António Costa continua a fugir do caso Tancos, mas desta vez deixou uma boca a Rui Rio. Antes, Manuel Alegre tinha defendido a 'Geringonça', mas também a posição forte do PS na solução governativa.
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Um pavilhão cheio para receber António Costa e a comitiva socialista que anda a fazer campanha eleitoral pelo país. Depois das cadeiras ocupadas, quem chegou tarde teve de assistir de pé e o calor humano, as palmas e as críticas à direita aqueceram a noite em Coimbra.
Manuel Alegre entrou na campanha com a missão de um "compromisso cívico", pela memória de muitos dos seus companheiros do passado, mas a apontar para o futuro. O histórico socialista recordou a solução governativa dos últimos quatro anos, enalteceu que "não há esquerda em Portugal sem o PS ou contra o PS" e que os "empecilhos vieram sempre da direita".
Esteve neste mesmo pavilhão, em Coimbra, há "quarenta e tal anos" e hoje fala por Mário Soares, Salgado Zenha, Miguel Torga ou António Arnault, pelos que "já cá não estão", mas que estão aqui consigo. "Eu sou o PS que António Costa representa", admite.
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O político português foi recebido em festa no comício do PS e falou da 'Geringonça', dizendo que, "ao contrário de todos os maus agoiros, a legislatura chegou até ao fim". Mas chegou ao fim porque contou com um PS forte e disso não tem dúvidas.
A solução encontrada com Bloco e PCP não envergonha Manuel Alegre e não envergonha o PS. É o histórico socialista que faz questão de reforçar, salvaguardando que só o PS "é capaz de promover e assegurar o diálogo" e que este mesmo diálogo "só foi possível porque o PS era o partido mais forte".
"Não há solução governativa de esquerda sem PS e muito menos contra o PS. Não há esquerda em Portugal sem o PS ou contra o PS", salvaguarda. Mais ainda, diz, "a esquerda toda, ao contrário do que pensam alguns, também precisa de um PS forte".
Agora que a 'Geringonça' está a chegar ao fim, pelo menos nesta legislatura, e que se tem discutido a paternidade da solução, Manuel Alegre atirou à esquerda, mas também à direita, tudo na mesma frase. "Não nos arrependemos, mas também não precisamos de professores de esquerda e também não precisamos de lições de moral de quem há alguns dias criticava a justiça de tabacaria e agora [fala como] justiceiro e eleitoralista", atirou o escritor, com a frase que arrancou da plateia o apupo da noite.
Manuel Alegre deixa claro, como já tem sido dito várias vezes por António Costa, que o que foi conquistado não significa que "estejamos contentes com tudo o que foi feito". Há mais a fazer, diz, e é preciso dar mais estabilidade ao PS.
E, já agora, "Centeno só há um e é nosso". Ficou a boca para Rui Rio, que considera também ter um Centeno. E se o nome do Ministro das Finanças é disputado, Manuel Alegre refere ainda que "não há políticas de esquerda sem rigor nas contas públicas", num dia em que o tema das contas entrou na campanha eleitoral.
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"Não há empecilhos à esquerda, os empecilhos vieram sempre da direita", atirou o histórico do PS.
A boca (ainda que pequena) no caso Tancos
Depois de vários dias a ignorar o tema Tancos e a reiterar que o mesmo está fora da campanha do PS, mesmo depois da intervenção de José Sócrates, António Costa atirou-se ao PSD e a Rui Rio em Coimbra: "Não respeitamos o poder judicial ao sabor da nossa conveniência ou da oportunidade eleitoral."
A frase surgiu no seguimento da ideia de que o PS nunca se fechou na maioria construída com Bloco, PCP e Os Verdes e de que nunca foi quebrado diálogo com os órgão de soberania nem com o poder judicial. Aliás, a 'Geringonça', afirma, quebrou até o "muro que dividia a esquerda".
Já nas ruas, no contacto com as populações, António Costa tem ouvido que os portugueses querem diferentes tipos de maiorias para o PS e para o futuro do país... mas todas com os socialistas.
"Uns querem maioria, outros não querem maioria, uns querem 'Geringonça', outros não querem 'Geringonça', mas há uma coisa que todos querem: um Governo do PS", ressalvou o líder socialista. E há uma "boa razão para isso: só o PS garante o equilíbrio que tornou possível virarmos a página da austeridade e aumentarmos a credibilidade internacional do país".
Repetindo uma frase do comício de Matosinhos e um trocadilho com Rio e rio (que é como quem diz rio e líder do PSD), Costa voltou a apelar ao voto: "Quem rio abaixo não encontrar alternativa, o melhor que tem a fazer é votar no PS."
"O que mais dividiu está visível" nos programas
No comício de Coimbra esteve também presente Marta Temido, que subiu ao palco a seguir a Manuel Alegre, e recordou que há quatro anos o "país duvidava da capacidade de si próprio e dos seus", mas "valeu a pena" porque foi possível "melhorar a vida" dos portugueses.
A cabeça de lista de Coimbra pelo PS enumerou alguns dos objetivos "cumpridos" pelo Governo socialista e garantiu que há mais trabalho a fazer. "No país que queremos construir não estamos disponíveis para deixar ninguém para trás", realçou.
Aliás, Marta Temido diz mesmo que fica "satisfeita" quando lê os programas eleitorais dos outros partidos, já que "o que mais dividiu está visível" nos objetivos da próxima legislatura. Quando o tema central é a saúde, e lembrando a vontade de Rui Rio privatizar os sistemas de saúde, Marta Temido ataca mesmo com a ideia de que o PSD quer uma "saúde de supermercado".