Empresas de trabalho temporário a fornecer médicos para lares? Sindicato nem quer acreditar
Secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos acusa o Governo de "só fazer propaganda" e desinvestir na carreira dos médicos do SNS.
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O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) critica o recurso a empresas de trabalho temporário para, pontualmente, garantir médicos nas equipas de apoio aos lares, que entram em ação a partir desta quinta-feira.
Em declarações à TSF, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, condenou o facto de as equipas que vão intervir nos lares estarem a ser constituídas sem recurso a médicos e afirmou que o Governo está a dar mais um sinal claro de desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde.
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Esta quarta-feira, a ministra da Saúde confirmou que será uma empresa de trabalho temporário a garantir a presença de médicos no apoio a lares de idosos que se confrontem com surtos de Covid-19, mas apenas quando isso se justificar. Segundo Marta Temido, a maioria dos elementos destas equipas serão profissionais designados como "ajudantes de ação direta".
"Eu não quis acreditar quando disseram isto", diz Roque da Cunha à TSF, que considera impensável que o apoio aos idosos em lares seja feito sem a presença de médicos e que nem se considere a contratação de profissionais do SNS.
O secretário-geral do SIM defende que a falta de verbas não pode ser argumento para não contratar médicos para estas equipas de intervenção nos lares. "Bastaria que a Segurança Social, nem que fosse durante um ano, nesta altura da pandemia e da gripe, aumentasse em um euro por utente essa comparticipação", alega.
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O facto de os médicos que irão, de facto, integrar pontualmente as equipas serem contratados através de empresas de trabalho temporário merece duras críticas por parte do sindicato.
"Com esse tipo de atitudes, o que é que o Governo faz? Dá um sinal claro de que não preserva, não apoia, as pessoas que estão na carreira médica", atira Roque da Cunha.
"É mais um sinal de que o Governo proclama o seu amor pela contratação coletiva e pela estabilidade do emprego, e depois, no dia-a-dia, é isto. Através das empresas de prestação de serviços, pagando uma comissão, contrata os médicos de uma forma precária", lamenta.
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O sindicalista afirma que existem soluções viáveis para que os profissionais do serviço de saúde público possam executar este trabalho, mesmo que "a tempo parcial". "Podiam não estar a tempo inteiro. É perfeitamente possível fazer esse tipo de negociação", contesta. "Não é argumento dizer que não se consegue encontrar médicos. Tem de haver engenho e arte para que isso aconteça."
Roque da Cunha acusa, por isso, o Governo de estar "mais preocupado em fazer propaganda" e de ignorar a realidade. "Parece que está permanentemente em campanha eleitoral", conclui.