Enfermeiros a realizar partos. Norma da DGS vem "deixar claro" que é "prática comum"
"Nada como ter um documento que vem normalizar tudo isto", diz Fernando Cirurgião à TSF.
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A Direção-Geral da Saúde publicou esta quarta-feira uma orientação que determina que os enfermeiros especialistas passam a realizar os partos normais. Este documento, para o diretor do serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, vem apenas clarificar aquilo que "é prática comum".
"A publicação desta orientação, que é chamada como tal pela Direção-Geral da Saúde, acaba por deixar claro aquilo que já seria prática comum nas salas e blocos de parto de uma forma generalizada. O papel dos enfermeiros especialistas numa sala de partos acaba por dever ser encarada como uma atitude importante de responsabilidade na condução do trabalho de parto de uma grávida de baixo risco e que esta atitude de multidisciplinaridade deste trabalho de equipa entre obstetras e enfermeiros especialistas é algo que já existia e que deve continuar a existir. Agora, nada como ter um documento que vem normalizar tudo isto", afirma Fernando Cirurgião à TSF.
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Apesar disso, o médico reconhece que esta nova orientação é também uma resposta à falta de obstetras, ainda que diga que não há motivo para preocupações, já que, em caso de dificuldades, um médico entrará sempre em ação.
"É evidente que, neste momento, isto também acaba por servir um pouco aquilo que todos nós temos estado a assistir em relação ao reduzido número de médicos especialistas disponíveis para prestar urgência nas múltiplas maternidades que temos. Como tal, esta atribuição de funções e responsabilidades pode vir ajudar um pouco a gerir melhor os recursos médicos e de enfermagem nas urgências de obstetrícia do nosso país", considera Fernando Cirurgião.
Os meses estão a aproximar-se e o diretor do serviço do hospital lisboeta deixa um alerta: "A verdade é que estes encerramentos dos fins de semana, que até se repetiram e prolongaram-se até ao final de maio, algum outro modelo vai ter de acontecer nos meses a seguir, que não será de todo retomar o normal funcionamento. Muito provavelmente não vai ser nada diferente nestes meses que se aproximam do verão."
"Provavelmente essas dificuldades vão continuar a ser notórias e, por isso, quase de certeza absoluta que estas medidas de encerramentos que têm estado a acontecer com alguma periodicidade devem continuar, bem como a própria concentração de esforços e de recursos humanos em algumas maternidades, agora que também se avizinham obras nas maternidades de melhoramento, já que algumas delas também já precisam dessas obras há muitos anos. No mínimo, tem de ser isso que tem de acontecer, porque não se consegue constituir equipas. A maior parte das maternidades não consegue ter equipas para voltar a um funcionamento em pleno durante os próximos meses", prossegue o médico do Hospital de São Francisco Xavier.
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Fernando Cirurgião acredita que as obras vão mesmo implicar, nalguns casos, o encerramento de serviços. Contudo, admite que a concentração de esforços pode minimizar os impactos das obras e a falta de obstetras.
"As obras deverão estar concluídas até ao final do ano. É isso que está previsto. Portanto, pensando nisto a nível global, é natural que deva mexer um bocadinho com todos. Cada um vai tentar gerir. Agora, pondo o dedo na ferida, a questão prática é mesmo os recursos médicos que, neste momento, se tem estado a notar. Tem-se estado a notar que constituir equipas que consigam segurar em pleno as urgências nos próximos meses, nota-se dificuldade em que isso aconteça. Por isso, esta concentração de esforços pode ser necessária e pode ser uma boa forma de que, acontecendo obras ao mesmo tempo, possa ajudar a que este campo possa ser passado com alguma tranquilidade", conclui.