Enquanto "cada Governo tiver a sua política", a "descoordenação" e a "falta de prevenção" no combate aos incêndios não vai mudar
Os especialistas que participaram no Fórum TSF concordaram que são necessárias "decisões fortes e corajosas" para que o país não arda durante dias
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Depois do presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais ter identificado, na terça-feira no Parlamento, "debilidades crónicas" na gestão do dispositivo de combate, António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros, fez o mesmo diagnóstico no Fórum TSF desta quarta-feira: há "descoordenação" que complica a ação no teatro de operações e "há um conjunto de atividades no âmbito da prevenção que não foram feitas e foram adiadas ao longo dos anos".
António Nunes avisou também que o país precisa de tomar "decisões fortes e corajosas". Caso contrário, o cenário no próximo ano não será muito diferente daquele que aconteceu este verão.
Acima de tudo, o que nos preocupa é ter incêndios com 11 ou 12 dias de existência. [Tendo em conta] O tamanho de Portugal continental, tal não é possível. (...) Nós, em dois ou três anos, destruiremos todos os nossos povoamentos florestais e colcaremos em risco a vida de pessoas e bens que é absolutamente inaceitável
Ouvido também no Fórum TSF, Paulo Fernandes, investigador do departamento de ciências florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sublinhou que o país investiu muito no combate às chamas, mas, mesmo assim, há coisas que têm de mudar, como "a formação, o treino, subir o padrão geral de conhecimento e quem comanda".
Já Paulo Lucas, especialista científico na área do comportamento e ecologia dos fogos florestais, lembrou que "cada Governo tem a sua política" e que, por cada mudança de Executivo, é "programa em cima de programa". Por isso, insistiu na necessidade da criação de um "pacto geracional que preveja investimentos, porque a floresta leva muitos anos a crescer".

