Ensinar quem só conhece a guerra. Educação é aposta de padre jesuíta português na Síria
Um padre jesuíta português, que vive em Damasco há um ano, explica como ajuda os sírios, todos os dias, a ultrapassar as muitas guerras dos últimos anos. A aposta é na educação.
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O Serviço Jesuíta de Refugiados, em Damasco, na Síria, ajuda diariamente mais de 100 deslocados internos. A missão é pequena e o único estrangeiro que ali trabalha é o padre jesuíta Gonçalo Castro Fonseca.
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"Estamos a apostar no futuro das crianças. Vamos ensinar. A grande maioria perdeu, nos últimos anos, toda a aprendizagem, e é isso que estamos a tentar dar", contou o padre Gonçalo.
Reconhece que os alvos da ajuda "são maioritariamente sírios, deslocados, que vieram de outras zonas do país, como Aleppo e Homs", e que "a grande maioria fugiu porque perdeu tudo, e foram atacados". Uma ajuda que não olha a crenças religiosas.
Na capital, os últimos meses foram de alguma normalização: "desde a Páscoa, a cidade retomou o vigor que tinha antes. Estão a ser retiradas as barricadas, os checkpoints. Mas, até abril, era uma cidade em guerra"
Diz que está na Síria, a ajudar a preparar o futuro que, mesmo demorando, "vai chegar".
Nesta entrevista à TSF, conta que todos os dias, continua a ouvir dos sírios com quem fala o dilema de ficar ou fugir.
"Os sírios são muito criativos, mas neste momento, na maior parte dos casos, estes deslocados não têm emprego. E dependem muito da ajuda que nós lhes damos".
Um padre português em Damasco
Tinha passado menos de um ano desde a instalação do Serviço Jesuíta de Refugiados, em Damasco, quando a guerra começou. Uma das muitas guerras que a Síria viveu nos últimos sete anos e meio.
Os jesuítas, que tinha pensado em Damasco como posição recuada para missões no Iraque, acabaram por estar no centro de um país em guerra.
O padre Gonçalo só chegou no ano passado, depois de um chamamento do provincial da ordem dos Jesuítas.
Agora, está de férias em Portugal, "umas férias muito necessárias, porque o ano foi intenso".
Esta segunda-feira, no Centro Universitário Padre António Vieira, em Lisboa, os jesuítas de Portugal organizam uma sessão com testemunhos sobre a missão no país, sob o tema "Não Esquecemos a Síria".
Vai ser feita a prestação de contas e alguma sensibilização para o trabalho que está a ser realizado.
O padre Gonçalo é um dos presentes e acredita que é possível aumentar o apoio que está a ser prestado, com a construção do novo centro de acolhimento, com capacidade para 400 pessoas. Ou seja, quase quatro vezes mais que o espaço atual.