Ensino artístico com a corda na garganta: "Temos professores a trabalhar quase pro bono"
Conservatórios de música são exemplo das dificuldades
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O Conservatório de Música de Olhão ensina cerca de 200 alunos nos instrumentos de piano, flauta transversal, violino, guitarra e acordeão. Esta escola, com financiamento do Ministério de Educação para os estudantes de ensino articulado, tal como todos os outros 120 estabelecimentos de ensino artístico, não vê essas verbas serem aumentadas há oito anos.
De acordo com o jornal Público, há mesmo escolas de ensino artístico em risco de encerrar, visto que os custos são cada vez maiores e esses estabelecimentos de ensino não querem sobrecarregar as famílias com mais despesas.
O diretor do Conservatório de Música de Olhão assegura que a sua escola não foge à regra. “Estamos a caminhar para um estrangulamento”, lamenta Rui Gonçalves. “No nosso caso temos professores a trabalhar quase pro bono, não recebem por uma tabela que deviam receber”, adianta. “Não vivemos, sobrevivemos”, salvaguarda.
Além de ensinarem os 200 alunos que frequentam a escola, os professores ainda dão aulas de música a cerca de 700 crianças das escolas do primeiro ciclo do concelho.
Nas escolas de ensino artístico, os alunos que frequentam o ensino articulado nada pagam, mas o Ministério da Educação só atribui um certo número de vagas a escola para este ensino especializado. No caso dos estudantes que ficam fora destas vagas, são os pais ou encarregados de educação que suportam a despesa.
“E ela pesa, claro que pesa, e muito”, exclama o professor de música. Rui Gonçalves explica que o Ministério da Educação atribuiu uma verba de 2600 euros por ano para cada aluno. Mas, no caso dos jovens que não estão no ensino articulado, “se fizermos um cálculo a 10 meses, seriam 260 euros ao mês". "Quem é que pode pagar 260 euros? Então nós cobramos metade desse valor, 130-140 euros”, esclarece
O professor de música mostra-se cético quanto a uma possível atualização das verbas atribuídas pelo Ministério da Educação. “ Houve uns rumores de que estavam talvez a pensar, mas só vendo, não acredito”, concretiza.
Os estabelecimentos de ensino artístico existentes pelo país substituem-se ao Estado, assegurando a perto de 25 mil alunos do ensino básico e secundário o acesso a disciplinas de formação específica em música, dança, teatro ou artes visuais.