Entrada de cocaína em Portugal “bate recordes”. Agência da União Europeia sobre Drogas assume preocupação
O Relatório Europeu Sobre Drogas 2025 adianta ainda que cada vez mais droga está a ser produzida na Europa. O investigador da Agência da União Europeia sobre Drogas, Bruno Guarita, considera que estes resultados levantam preocupações a nível de saúde pública e de segurança
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A entrada de cocaína volta a bater um novo recorde na Europa: no total, foram apreendidas 419 toneladas, em comparação às 323 toneladas do ano anterior. A informação é avançada pela Agência da União Europeia sobre Drogas (EUDA), no Relatório Europeu sobre Droga 2025, lançado esta quinta-feira. O documento apresenta dados relativos a 29 países europeus, sendo eles os 27 Estados-membros da União Europeia, mais a Noruega e a Turquia.
O relatório demonstra que a Bélgica, a Espanha e os Países Baixos são os maiores portos de entrada de cocaína, mas Bruno Guarita, investigador da EUDA, diz que a entrada desta substância regista um novo recorde em Portugal.
Temos vindo a observar um aumento gradual da entrada da cocaína na Europa em Portugal, mas este ano está a atingir proporções, já que eu diria quase recorde quando olhamos para aquilo que tem sido o volume de entrada de cocaína na Europa na última década.
O analista considera que estes valores mostram que o mercado de cocaína é "extremamente dinâmico e que se está a desenvolver de uma forma muito rápida nos mercados europeus". Bruno Guarita sublinha ainda que estes dados levantam preocupações a nível de saúde pública e de segurança. "Temos assistido a uma grande competição naquilo que são as organizações criminais que traficam esta substância e que temos assistido aqui a alguns problemas de segurança como homicídios e violência relacionados com estes gangues [a nível europeu]", explica.
Em relação às catinonas — ou seja, substâncias estimulantes e psicoativas —, Bruno Guarita reconhece que os dados são limitados, mas adianta que estas "apareceram nas dez substâncias mais submetidas para testagem em Lisboa e no Porto."
Porém, o investigador sublinha que os hábitos do consumo de droga em Portugal não estão aquém dos registados na Europa. "Eu diria que Portugal serve a tendência europeia", afirma. Bruno Guarita adianta que a maioria dos consumidores, tanto em Portugal como na Europa, são homens com idades entre os 15 e os 34 anos.
O Relatório Europeu sobre Droga 2025 destaca ainda que a Europa tem crescido como produtora. "Muitas das substâncias sintéticas e semissintéticas que foram apreendidas sabemos que são produzidas no espaço europeu. Portanto, a Europa está a transformar-se também num polo de produção de substâncias a nível europeu e, em algumas situações, a Europa já contribui de uma forma bastante considerável para o abastecimento destas substâncias", sublinha. O investigador destaca ainda o caso da Polónia. "Foram identificados 53 locais de produção de catinonas sintéticas, [que] estavam principalmente na Polónia", esclarece.
Bruno Guarita diz-se ainda preocupado com o aumento do consumo da cocaína e com o crescimento de outras drogas sintéticas que estão a substituir as tradicionais, como o ópio.
