Entusiasmo, cafeína e proximidade com eleitores. Os trunfos dos candidatos para esta campanha
Um segredo para aguentar a campanha, um argumento para captar o voto das pessoas, uma forma de dissuadir quem se abstém. Pedro Marques, do PS, Paulo Rangel, do PSD, Marisa Matias, pelo Bloco de Esquerda, Nuno Melo, do CDS, e João Ferreira, da CDU, respondem a três perguntas colocadas pela TSF.
Corpo do artigo
Arranca esta segunda-feira a campanha de norte a sul que pode colocar os candidatos a eurodeputados nos assentos que alinham fronteiras e valores no Parlamento europeu. Na estrada, Pedro Marques, Paulo Rangel, Marisa Matias, Nuno Melo e João Ferreira não se escusam a perguntas dos cidadãos, militantes ou não, nem às da TSF. A contagem decrescente para a ida às urnas a 26 de maio suscita a reflexão de três pontos fundamentais para os que concorrem a eurodeputado.
Qual é o segredo para aguentar estes 12 dias de campanha?
Pedro Marques está muito otimista quanto às ações, que arrancam esta segunda-feira em Bragança, passam por um almoço na Guarda e culminam, no primeiro dia de campanha, em Évora. "Estou muito confiante de que serão semanas muito positivas. Eu tenho a sorte de ser jovem, tenho boa saúde física, tenho uma família que me dá suporte emocional neste período, tenho uma equipa que me ajuda e que suporta toda a organização do processo, para que a campanha seja dinâmica, seja forte, e conto também com as minhas capacidades", confidencia o socialista que diz querer "fazer uma boa campanha e esclarecer os portugueses".
TSF\audio\2019\05\noticias\13\joao_alexandre_falso_direto_com_pedro_marques
Para Paulo Rangel, a receita é outra, e inclui pitadas de entusiasmo e de cafeína: "O segredo é muita determinação, muita convicção, muito empenho, algum entusiasmo, que também é preciso, e alguns cafés para lá dos habituais". "A motivação interna faz o resto", esclarece o social-democrata.
Marisa Matias, a candidata que faz campanha para estar "lado a lado com os portugueses" na Europa, diz que o ingrediente especial é nunca se sentir sozinha. "Tenho pessoas muito particulares na cabeça. É como se estivessem sempre à minha frente, a dar-me mimo. Eu não estou louca, faço-o para me sentir acompanhada", realça a bloquista.
Nuno Melo, o cabeça de lista do CDS às eleições europeias, sente-se "como um peixe na água" a fazer campanha, e garante que o segredo para aguentar o ritmo intenso das derradeiras semanas para apelar ao voto "é ter o apoio das pessoas", não apenas das que andam com ele na chamada "máquina do partido", como o das pessoas que encontra na rua, "porque o CDS é muito bem recebido". "Essa é a energia que depois me dá toda a força para acreditar num bom resultado", acrescenta.
TSF\audio\2019\05\noticias\13\raquel_de_melo_falso_directo_08h
Pela CDU, João Ferreira frisa que a campanha "é um trabalho assente num enorme e muito generoso coletivo que tem levado, de norte a sul do país, às ruas do país, aquilo que tem sido a intervenção da CDU nos últimos anos, não apenas na vida nacional, mas também no Parlamento europeu". Essa intervenção é baseada na convicção de que "avançar é preciso - é o que temos dito -, não andar para trás", salienta.
Que argumento invocaria para reunir os votos das pessoas?
"O voto no partido socialista é o voto numa Europa de futuro. Aquilo que fizemos bem aqui em Portugal, criando emprego, reduzindo a pobreza, com as contas em ordem, com responsabilidade orçamental, é o meu melhor argumento". Este é o principal fator pelo qual Pedro Marques quer que os portugueses se mobilizem quando forem às urnas. "As pessoas têm de fazer uma escolha: fazer na Europa aquilo que fizemos em Portugal, ou voltar para trás, para a receita dos cortes e das sanções", clarifica o candidato que quer fazer na Europa o que o PS "tem feito em Portugal".
Pedro Marques frisa que "à direita estão os cortes e as sanções contra Portugal. São os mesmos candidatos do passado, é a mesma receita do passado".
Por outro lado, o PSD é, segundo Paulo Rangel, "o partido que tem o maior peso político na Europa, e é preciso reforçá-lo, porque é aquele que pode dar mais força a Portugal". É ainda o partido "que tem a lista mais equilibrada e competente, que mistura experiência com juventude, conhecimento com inovação", na perspetiva de Rangel. O social-democrata acredita, ainda assim, que o PSD é o que mantém o realismo e abdica das utopias: "Tem um programa realista. Tem boas ideias, mas ideias realistas. Não é como o PS, que tem ideias mais utópicas, idealistas, de que se consegue dar tudo a todos. Não é essa a nossa lógica".
Quanto às lutas que põe em cima da mesa, Paulo Rangel exemplifica: "Propostas sociais: na luta contra o cancro, na estratégica única de maternidade, não haver mais cortes nos fundos - como aqueles que defende o PS -, alterações climáticas como uma grande prioridade, a reforma da zona euro..."
O Bloco de Esquerda, encabeçado por Marisa Matias, não faz um apelo direto, mas pede que se pense no que tem sido feito pelo partido e nos seus valores. "Quem acha que aquilo que fazemos, a forma como nos apresentamos, aquilo por que temos lutado estes anos, não vale a pena e não os representa, não vote em nós. Um argumento para votar em nós é convicção e confiança naquilo que temos feito e que nos propomos fazer", sublinha Marisa Matias.
TSF\audio\2019\05\noticias\13\afonso_de_sousa_falso_direto_com_marisa_matias
Para votarem no CDS e na lista que lidera, o candidato centrista destaca "o facto de o partido ser a única escolha possível para quem é de direita em Portugal". "Nós hoje temos um PSD muito recentrado. Rui Rio assume o PSD como um partido de centro, assume-se a si próprio como um político de centro-esquerda, e eu represento um partido que tem orgulho de ser de centro direita, e, por isso, nós somos essa voz, de um CDS que não pode ser substituído por mais ninguém", explica.
À conversa com a TSF, Nuno Melo desafia os abstencionistas a votarem no CDS, ao defender que "é preciso que as pessoas percebam que tudo o que mais os afeta hoje nasce e vem da Europa, porque 85% do investimento público vem da União Europeia. Os mais novos têm as oportunidades que a minha geração nunca teve, têm 28 países onde podem trabalhar".
Já a CDU - e João Ferreira salienta este ponto: é um voto na CDU, e não individual - "está associada a tudo que de positivo aconteceu nos últimos anos da vida nacional. Todavia, persistem problemas, e não é porque não tentámos as condições, fosse aqui no país, fosse no Parlamento europeu, para podermos avançar com respostas", explicita o candidato. "Esses bloqueios persistem, e persistem muitas vezes porque, tanto cá como lá, no Parlamento europeu, alguns partidos portugueses - nomeadamente o PS, o PSD e o CDS - convergiram na aprovação de legislação, de determinações, de orientações da União Europeia que dificultaram essa resposta aos problemas nacionais. Agora para avançar, para ultrapassar esses obstáculos, dar mais força à CDU", diz o defensor daquele que pensa ser "o caminho mais certo e seguro".
TSF\audio\2019\05\noticias\13\liliana_costa_falso_directo_cdu
Como se combate a abstenção?
Pedro Marques formula uma resposta direta: "Contactando, como contactei, com milhares e milhares de portugueses na pré-campanha, falando com as pessoas, e mostrando-lhes o quão importante é votar nas eleições europeias". E essa importância decorre do facto de que "nas eleições europeias, votamos para formar um Parlamento europeu, que cada vez decide mais coisas na nossa vida quotidiana".
O socialista relembra o Brexit para convencer os portugueses a votar. "Se repararmos no que aconteceu no Reino Unido - eu gosto de dar esse exemplo às pessoas para ilustrar por que não devem ficar em casa -, os jovens britânicos eram a favor da permanência na União Europeia. Muitos deles não foram votar, e acordaram no dia seguinte nesta situação desgraçada", diz Pedro Marques. E remata: "Não podem ficar em casa, porque a escolha é demasiado importante e fará toda a diferença. Queremos uma Europa a governar para as pessoas, ou queremos uma Europa tecnocrata, como tivemos nos últimos anos, com a maioria de direita?"
A situação que o Reino Unido atravessa é também razão invocada por Rangel para apelar aos abstencionistas que abandonem velhos hábitos. "Hoje, com o Brexit, com o problema das migrações, com o aparecimento de algumas ideias extremistas - especialmente extrema-direita -, com a incerteza quanto à reforma da zona euro, muitas das coisas que mudam as vidas das pessoas em concreto estão em causa nas eleições europeias", teoriza o político que acredita no "caráter decisivo destas eleições".
TSF\audio\2019\05\noticias\13\filipe_santa_barbara_falso_direto_com_paulo_rangel
"As eleições europeias são mais importantes do que nunca. Estas são as mais importantes da História da Europa e, até, da nossa História nacional", conclui o social-democrata.
Marisa Matias tem também a resposta pronta: "Combate-se respondendo de forma mais direta aos problemas das pessoas, sinceramente, e percebendo que há muita ligação entre a política europeia e a política nacional, não fazendo estes muros todos entre uma coisa e outra".
Nuno Melo, do CDS, insta os eleitores a contrariar os riscos que o continente europeu enfrenta: "cada abstenção é o oposto do extremismo, porque o extremismo é militante, no extremismo todos vão votar, os partidos moderados são os que paradoxalmente têm mais abstenção". E reitera o apelo: "pelo vosso presente, pelo vosso futuro e pelo futuro dos vossos filhos, votem! Não se abstenham".
Por seu lado, João Ferreira acredita que a abstenção deve ser contrariada mas que tem razão de ser. "Esta abstenção decorre de uma coisa; é um processo de integração que tem sido feito nas costas das pessoas, contrário aos seus interesses e à sua participação. Mas o alheamento não resolve este problema", explica.
"A única forma que temos de resgatar o poder de tomarmos decisões fundamentais para a nossa vida é votando, desde logo, e lutando em todos os combates que vamos ter de travar, mesmo depois das eleições", remata João Ferreira.