Única de âmbito distrital no país, a Equipa de Rua Adições do Gabinete de Atendimento à Família (GAF) percorre os dez concelhos do Alto Minho, numa missão de "de educação e promoção de saúde", junto de trabalhadores do sexo e pessoas dependentes de álcool e drogas. Atualmente, dão a mão a 183 pessoas, a maioria dependentes em fim de linha.
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Nas zonas de prostituição distribuem material de proteção [45 preservativos e 15 pacotes individuais de gel lubrificante cada] e realizam testes rápidos para despiste de doenças sexualmente transmissíveis.
"Por vezes traz-nos alguns desafios, com situações complexas e de maior perigo que estas mulheres passam no seu dia a dia, no seu trabalho. Há pedidos bizarros de clientes, que às vezes não sabem gerir, e zangas entre elas. Fazemos acompanhamento psicológico, ajudamos com informação que tem a ver com direitos e cidadania e damos também suporte jurídico, quando é necessário", descreve Cláudia Marinho, coordenadora da equipa, que, no dia desta reportagem, saiu numa carrinha do GAF, com a enfermeira Sara Peixoto, para visitar uma conhecida zona de prostituição ao ar livre, que vai desde as imediações de uma escola em Darque até Vila Nova de Anha.
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Como já é habitual, levaram na bagagem os preservativos e lubrificantes e testes rápidos ao VIH, sifilis, hepatite B e C, para cumprir as marcações feitas previamente pelas prostitutas. Na sua maioria, mulheres que, faça chuva ou faça sol, se deslocam de fora da região e montam o seu posto de trabalho entre a vegetação, à espera de clientes, em zonas próximas da estrada.
Estavam a trabalhar, Sheila, Margarida Rosa, Conceição, Ana, Sabrina e Laura, quase todas são veteranas no ofício. A mais velha, Conceição, tem 70 anos.
Margarida Rosa de 62 anos, a mais antiga na zona, pediu: "Quero preservativos dos vermelhos, se tiveres. Se não tiveres deixa ficar que tenho muitos brancos. O vermelho é mais forte e não rebenta com tanta facilidade."
Contou que chegou a trabalhar "em restaurantes, cafés e em fábricas", mas "para ganhar mais dinheiro", começou a prostituir-se "na noite do Porto".
Os clientes são satisfeitos numa casa abandonada, que se avista do local.
"Metemos lá uma cama e um frigorífico. Não tem muita higiene, mas mete-se um tapete por cima e faz-se o serviço", resume a veterana, louvando a presença das técnicas do GAF. "É importante que venham. Faço muitas vezes os testes. Trazem preservativos e falam connosco. A gente desabafa", afirma.
Cláudia e Sara param em todas. Perguntam se precisam de alguma coisa, entregam produtos para a saúde sexual, fazem testes, ouvem desabafos e riem com elas. Se surge alguém novo na zona, abordam e explicam quem são e ao que vão.
Laura de 35 anos, trabalhava num restaurante. Conta que começou a prostituir-se há meio ano.
"Pelo dinheiro. Tenho sonhos e os sonhos custam dinheiro. E este é o meio mais rápido (silêncio), mais sofrido também, mas...", disse, enquanto a enfermeira lhe picou o dedo para colher sangue e realizar os testes que pediu.
"O nosso foco são as doenças sexualmente transmissíveis e depois outras questões relacionadas com higiene e saúde", indicou a enfermeira Sara Peixoto.
No distrito de Viana do Castelo, a equipa do GAF divide-se em duas zonas de intervenção, Minho e Lima, com dois técnicos cada. As visitas são diárias e abrangem Paredes de Coura, Monção, Melgaço, Valença, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira e Caminha.