A escola tem duas turmas, uma em Castelo Branco, dedicada aos queijos DOP da Beira Baixa e Rabaçal, e outra em Viseu focada no queijo DOP da Serra da Estrela.
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Já começaram as aulas da escola dos queijeiros, um projeto criado no âmbito do Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro. O ano passado abriu uma formação destinada aos pastores. Este ano letivo aprende-se a fazer o queijo.
A escola tem duas turmas, uma em Castelo Branco, dedicada aos queijos DOP da Beira Baixa e Rabaçal, e outra em Viseu focada no queijo DOP da Serra da Estrela. A TSF acompanhou o dia apresentação da turma instalada na cidade viseense.
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Pouco passava das dez da manhã quando alguns dos dez alunos inscritos se concentraram à porta de um dos edifícios da Escola Superior Agrária. Antes mesmo de entrarem na sala de aulas ouvem o presidente do estabelecimento de ensino, António Monteiro, a explicar algumas das regras do funcionamento do curso, devido à pandemia. É obrigatório o uso de máscara e desinfetar as mãos à entrada e saída, entre outras medidas.
Já dentro do edifício, a formação inicia-se com as tradicionais boas-vindas e a apresentação do curso. A turma de Viseu é composta por 10 alunos, seis mulheres e quatro homens. Todos têm pela frente 40 horas de formação, na Escola Agrária, teórica e outras 40 práticas, em queijarias da região.
"80 horas serão a semente, mas o suficiente para depois germinar e dar aqui o sucesso que pretendemos na região, cativando e fixando pessoas que contribuam para a encomia, nomeadamente através dos nossos produtos locais que são mais valorizados. O queijo serra da estrela identifica esta região, a Serra da Estrela, com potencial turístico e económico e nós queremos aproveitar isso e estamos aqui para valorizar a região", salienta António Monteiro.
Os estudantes que frequentam a escola são todos da região e estão todos, de alguma forma, ligados à fileira do queijo. Na turma de Viseu, a TSF encontrou uma cara conhecida, Ana Teresa Matos, que o ano passado já frequentou a escola de pastores.
"Primeiro aprende-se a tratar dos animais. Fui fazer o estágio com a dona Ângela, em Passos da Serra, que tem uma queijaria artesanal, já aprendi qualquer coisa e agora queria aprofundar esse conhecimento na escola de queijeiros", salienta.
A agricultura é licenciada em Biologia e tem um mestrado em Engenharia Florestal. Natural de Mafra, abandonou o litoral e instalou-se em Folgosinho, Gouveia. Em abril, começou a explorar uma quinta na aldeia, onde está a criar 14 ovelhas e onde quer abrir uma pequena queijaria artesanal.
"Não quero crescer muito porque estou lá sozinha, o trabalho é todo para mim, e sem ajuda é um bocadinho difícil. Para além disso, estar a aumentar muito também se perde na qualidade e eu queria fazer um produto com qualidade", sustenta.
É também esse o objetivo de Anabela Machado, que há cinco anos deixou a escola onde trabalhava em Cascais e se mudou para Gouveia. Na região da Serra da Estrela abriu uma exploração de frutos vermelhos. Já tem alguns animais, cabras, também quer ter ovelhas e fazer o seu próprio queijo.
"Achei engraçado e interessante fazer queijo em modo biológico. Achei interessante para qualificar as minhas habilitações e ter mais conhecimento sobre o que é o queijo", diz.
Os planos de Anabela já estão traçados. Ainda que nunca tenha feito qualquer queijo, não tem dúvidas que ainda este ano vai lançar um produto próprio e em modo biológico e artesanal.
"2020 não será assim tão mau, pelo menos para mim", afirma, acrescentando que quer ter tudo "o mais artesanal". "Desde as prateleiras se manterem em madeira a por o menos de inox possível. E quando é artesanal, é artesanal, puro, sem nada, sem químicos e invenções. Prefiro ter pouco e com qualidade do que muito", adianta.
O pastor Daniel Fonseca, de Várzea de Meruge, no concelho de Seia, é um dos quatro homens a aprender a fazer queijo. Com um rebanho com 120 cabeças, quer rentabilizar melhor a exploração que possui.
"Já sou produtor de leite certificado serra da estrela e gostaria de complementar a minha atividade produzindo o meu próprio queijo", refere.
Daniel conta abrir a sua queijaria em setembro do próximo ano. Sendo um homem da serra, pela experiência que tem, pelo que viu e ouviu já sabe fazer queijo. Ainda assim, decidiu voltar à sala de aulas.
"Tenho os conhecimentos básicos, ancestrais adquiridos em casa, e falando com as pessoas com quem trabalho, mas acho que é sempre importante sabermos ao nível da legislação todos os procedimentos, saber o que vem nos livros. Não basta a prática porque há coisas que nos passam um bocadinho ao lado no fabrico e aqui vimos aprofundar esse conhecimento", conclui.