Escolas só têm dois dias para preparar provas digitais. Diretores e professores de informática apelam a adiamento
Representantes dos professores de informática e dos diretores escolares lamentam que as instruções tenham sido divulgadas com tão pouca antecedência e antecipam dificuldades.
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As provas de aferição a disciplinas teóricas serão este ano realizadas em formato digital, mas as escolas só receberam esta sexta-feira as instruções para o processo, a dois dias úteis do arranque das provas.
Segundo a notícia avançada pelo Jornal de Notícias, que teve acesso às instruções do Júri Nacional de Exames, as escolas vão ter de instalar um programa em cada computador que será usado, pedir credenciais para todos os alunos, criar um servidor se quiserem fazer a avaliação offline e ainda fazer testes reais de preparação.
Em declarações à TSF, a presidente da Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI), Fernanda Ledesma, fala em "falta de respeito".
"Não somos contra as provas em formato de suporte digital, mas a dois dias de começarem as provas é que chega às escolas uma indicação que é preciso instalar aplicações nos computadores, que estão com os alunos em casa. Quem é que vai fazer esse serviço? Os professores de informática, na maior parte das escolas."
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"A forma como isto tem chegado, em cima da hora, com indicações à pressa, é uma falta de respeito, porque não é com dois dias úteis de antecedência que se envia um trabalho desses para as escolas", condena Fernanda Ledesma.
Esta será mais uma tarefa acumulada pelos professores de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), sem quaisquer contrapartidas, lembra. "É sempre pedir mais e mais e mais... Mais uma tarefa, mais um cargo, mais horas, e condições não vêm. Sobra para os professores, porque não é possível fazer omeletes sem ovos."
Fernanda Ledesma antecipa muitas dificuldades na realização das provas em formato digital, e perante a falta de condições considera que o melhor seria adiar estas provas para o próximo ano letivo.
"Vai haver problemas de rede, certamente. Mesmo que o processo estivesse todo organizado a probabilidade de haver problemas é sempre grande, quanto mais assim, que as coisas chegam à última da hora", nota.
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Também os diretores escolares consideram que vai ser impossível conseguir ter tudo pronto para as provas arrancarem na terça-feira. Flinto Lima, presidente Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, acredita que será inevitável adiar algumas provas.
"O grande problema é o curto prazo - em muitas situações vai ser impossível cumpri-lo", afirma, em declarações à TSF. "As provas de aferição que em algumas escolas já irão começar no dia 16 - porque é o primeiro dia e já está marcado, está agendado, está programado - vão ter de ser adiadas para dias posteriores."
Filinto Lima alerta que "as dificuldades vão existir em todas as escolas", mais graves conforme o número de turmas que têm de realizar essas provas e o número de professores de TIC disponíveis para " ter este trabalho extra e muito burocrático".
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O representante dos diretores escolares defende que esta situação mostra ainda a grande necessidade de haver em todas as escolas pelo penos um técnico de informática.
Se tudo correr conforme planeado, a a avaliação à disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que será feita pelos alunos do 8.º ano, vai realizar-se entre 16 e 26 de maio. Para dia 24 está agendada a prova de Ciências Naturais e de Físico-Química, também do 8.º ano. As restantes serão realizadas em junho, nos dias 2, 5, 6, 7, 15 e 20, também por alunos do 5.º e do 2.º ano.
Questionado pela TSF, o Ministério da Educação não confirma se está e cima da mesa o eventual adiamento das provas, mas garante que "o processo de instalação da aplicação de realização das provas de aferição é muito simples e o mais possível automatizado".
"A instalação de uma aplicação nos computadores, nos quais os alunos vão realizar as provas de aferição eletrónicas, deve-se a uma necessidade imperativa de assegurar a segurança e a equidade entre os alunos. No plano inicial do DAVE, estava definida a utilização de browsers seguros para a realização das provas, o que se revelou, durante o desenvolvimento do projeto, não ser a solução mais adequada para este propósito. Assim, foi desenvolvida uma aplicação que permite, através da sua instalação nos computadores que os alunos não possam sair da sua prova antes de a terminarem nem aceder a outras aplicações", justifica o gabinete de João Costa.
Notícia atualizada às 13h20