Escritora Alice Vieira vence prémio iberoamericano de literatura infantil e juvenil
A autora foi distinguida pelo seu "estilo pessoal que transcende gerações e culturas", assim como pela "grande qualidade literária e diversidade da sua obra".
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A escritora portuguesa Alice Vieira é a vencedora da edição deste ano do Prémio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, anunciou o júri do galardão atribuído pela Fundação SM.
A autora de "Rosa, minha irmã Rosa" foi distinguida pelo seu "estilo pessoal que transcende gerações e culturas", assim como pela "grande qualidade literária e diversidade da sua obra", como se lê no comunicado hoje divulgado pela fundação iberoamericana dedicada à educação, e na página do prémio, na Internet.
Alice Vieira "constrói de forma verosímil personagens infantis e juvenis cativantes, com sentimentos profundos e complexos", acrescenta o júri, destacando a capacidade de a autora "perceber e interpretar o mundo interior de crianças e adolescentes", através de uma "observação apurada dos pormenores da vida quotidiana", e o modo como assim consegue "transformar uma história local em universal".
Ouvida pela TSF, Alice Vieira mostrou-se naturalmente feliz por ter vencido o prémio.
"Eles ligaram para mim, ao princípio eu não acreditei, porque a gente nunca acredita nessas coisas", confessa.
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Para Alice Vieira, este é mais um prémio a juntar a muitos outros que tem recebido. A autora portuguesa sublinha que gosta de receber estas distinções, que são sinónimo de reconhecimento do trabalho desenvolvido.
"Eu gosto muito de receber prémios. Há pessoas que não querem prémios, eu quero todos, já que é uma coisa que me dá tanto trabalho. Eu fiquei até muito espantada, porque realmente não estava à espera. Claro que eu gostei muito, só espero não ter de ir ao México receber o prémio porque é muito longe", diz.
O prémio que Alice Vieira recebeu agora diz respeito a um livro dirigido ao público juvenil, mas a autora afirma que os livros que escreve são para todos, independentemente da idade: "Quando estou escrever, nunca penso na idade que tem quem vai ler. É para quem quiser, como eu digo."
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Alice Vieira já está a escrever um novo livro, desta vez, para adultos.
"Eu agora nem tenho escrito muito para crianças, tem sido mais para adultos, e agora obviamente estou a escrever outro romance, porque a minha editora não me deixa parar", nota, reconhecendo que este livro "vai demorar mais um bocadinho".
O júri do prémio foi constituído por Juana Inés Dehesa Christlieb, da Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI), Freddy Gonçalves da Silva, do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (CERLALC), Alicia Espinosa de los Monteros, pelo Conselho Internacional de Livros para Jovens (IBBY México), Rodrigo Morlesin, da secção mexicana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e por Teresa Tellechea Mora, em representação da Fundação SM.
A escritora portuguesa foi escolhida entre 14 finalistas. Este ano o prémio recebeu candidaturas de autores provenientes da Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai.
A autora, que já tinha sido candidata ao prémio em 2016 e 2018, é a primeira portuguesa distinguida pelo prémio que reconhece "a trajetória de escritores iberoamericanos" de literatura infantil e juvenil no espaço iberoamericano, em língua portuguesa ou espanhola.
Em anos anteriores, foram candidatados ao prémio, por proposta da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), autores como António Torrado, Luísa Ducla Soares, António Mota e Maria Teresa Maia Gonzalez.
De acordo com a DGLAB, Alice Vieira é "a escritora portuguesa de livros para jovens mais traduzida e divulgada no estrangeiro".
Nascida em 1943, licenciada em Filología Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Alice Vieira soma uma carreira literária de mais de 40 anos, que conjugou com o percurso no jornalismo.
Entre os prémios que recebeu destacam-se o Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil por "Este rei que eu escolhi" (1993), o Grande Prémio Gulbenkian pelo conjunto da obra (1994) o prémio Maria Amália Vaz de Carvalho pelo livro de poemas "Dois corpos tombando na água" (2007).
Alice Vieira já esteve nomeada para os prémios Hans Christian Andersen e ALMA -- Astrid Lindgren Memorial Award.
No domínio da literatura para crianças e jovens, é autora de obras como "Úrsula, a maior", "Os olhos de Ana Marta", "Viagem à roda do meu nome", "A espada do rei Afonso", "A charada da bicharada" e "Este rei que eu escolhi".
Em entrevista à agência Lusa, quando assinalou 40 anos de carreira em 2019, Alice Vieira atribuiu o sucesso de "Rosa, minha irmã Rosa", o seu primeiro livro para jovens, a "uma maneira diferente de escrever para os miúdos".
"Talvez também o facto de eu ser jornalista. Eu gosto mais de escrever histórias do nosso tempo, histórias de agora e quem começar a ler agora [o 'Rosa, minha irmã Rosa'] e for ler os livros até ao fim, tem um bocadinho a evolução da nossa vida", afirmou então.
Na altura, olhando para o seu percurso, a escritora disse à Lusa que, com a escrita para os mais novos, cumpriu uma promessa pessoal: "Tive uma infância complicada e lembro-me de ter dito para mim própria: 'Nunca me hei de esquecer disso'. Foi um bocadinho vingança".
O Prémio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil tem o valor de 30 mil dólares (cerca de 28 mil euros), foi criado em 2005 pela Fundación SM (México) e tem a colaboração da UNESCO, do IBBY, do Centro Regional de Fomento do Livro na América Latina e no Caribe e a Organização dos Estados Iberoamericanos para a Educação Ciência e Cultura, assim como da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México.
A entrega do prémio a Alice Vieira está marcada para o próximo dia 28 de novembro, durante a Feira de Guadalajara.