Escutas que envolvem Costa, milhares de euros escondidos e alegados favores: o que se sabe da operação Influencer
Corpo do artigo
O Ministério Público batizou-a "operação Influencer". Há nesta história presumíveis influenciadores e alegados influenciados, suspeitos de tráfico de influência e corrupção nos projetos de lítio e hidrogénio. E há provas áudio, com suspeitos a ser escutados: constam no auto de operação pelo menos 20 escutas telefónicas.
No caso do processo que envolve diretamente o primeiro-ministro - que resulta de uma certidão extraída do processo principal - apenas três escutas terão sido validadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, escreve esta quinta-feira o Correio da Manhã.
De um lado da linha, António Costa, do outro, João Matos Fernandes. Na primeira conversa, em dezembro de 2020, o primeiro-ministro e o então ministro do ambiente discutem a localização da refinaria de lítio, os eventuais interessados e uma eventual parceria com Espanha.
Noutros dois telefonemas, Costa e Matos Fernandes combinaram encontros pessoais para falar sobre os procedimentos administrativos relacionados com o projeto do lítio e do hidrogénio, levantando suspeitas de que estariam a evitar deliberadamente falar ao telefone sobre o tema.
"Já te disse, falaremos disso mais tarde", terá dito o chefe de Governo perante a insistência do ministro ao telefone, gravado na numa das escutas, a que o Observador teve acesso.
Ao mesmo jornal, o primeiro-ministro diz não ter tido conhecimento que um membro do seu Governo estaria sob escuta e diz desconhecer as conversas em questão.
João Matos Fernandes é suspeito de corrupção passiva e prevaricação, com o Ministério Público a apontar suspeitas à sua atuação relativamente ao consórcio de hidrogénio em Sines.
Quase 78 mil euros em livros e caixas de vinho
A investigação principal da operação Influencer assenta em pelo menos 42 buscas buscas a ministérios, empresas e residências e levou às detenções do consultor de Costa Diogo Lacerda Machado, do chefe de gabinete do primeiro-ministro Vítor Escária, do presidente da Câmara de Sines Nuno Mascarenhas e dos administrador da sociedade Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves.
São ainda arguidos no processo o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, o ex-secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e ex-secretário de Estado da Justiça no Governo de Sócrates, João Tiago Silveira, e a empresa START - Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus SA.
Segundo a SIC, as buscas no gabinete de Vítor Escária, em São Bento, levaram à apreensão de 75.800 euros em dinheiro. As notas estariam escondidas em envelopes, dentro livros e caixas de vinho.
Diogo Lacerda Machado é suspeito de ter facilitado o acesso dos administradores da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, a membros do Governo através da relação de proximidade que mantinha com Vítor Escária.
Isto além da relação de amizade muito próxima com Costa, amplamente conhecida há anos.
O Ministério Público suspeita que Vitor Escária terá acedido aos pedidos de Lacerda Machado, fazendo com que os administradores da Start Campus passassem a ter um acesso direto e regular a João Galamba.
Os procuradores do Ministério Público revelam que o ministro e o presidente da APA ter-se-á encontrado com Afonso Salema e Rui Oliveira Neves em reuniões formais e almoços e jantares privados, que de acordo com o Jornal Expresso seriam pagos pelos administradores Start Campus, sem que tenha sido cobrado a João Galamba e Nuno Lacasta, o que, a comprovar-se, constitui uma violação do Código de Conduta do Governo.
Nas próximas semanas serão analisados outros elementos apreendidos no gabinete de Vítor Escária, incluindo a agenda eletrónica, emails, conversas por SMS e Whatsapp.
Já em casa do ministro João Galamba também foi alvo de buscas. Foram apreendidos telemóveis e computadores de onde será agora extraída informação de-mails, Whatsapp e SMS. Segundo o jornal Público, foi ainda encontrada uma pequena quantidade de haxixe, dentro do valor legal admissível por lei para autoconsumo.
O ministro é ainda suspeito de usar os dois motoristas que prestavam serviço no seu gabinete, quando era secretário de Estado da energia e Ambiente, para que realizassem deslocações apenas para seu "benefício pessoal", como transportar as filhas e a empregada de Galamba ou buscar garrafas de vinho.
O Ministério Público investiga suspeitas suscetíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência nas concessões de exploração de lítio nas minas de Montalegre e de Boticas e no projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines.
