Escuteiros católicos comunicaram 19 casos de abusos sexuais, nem todos prescreveram
O chefe do Corpo Nacional de Escutas afirma que desconhecia outros sete casos que aparecem no relatório. Apesar dos mecanismos de prevenção, diz que "continua a apertar-nos o coração sabermos que há tantas vítimas que não reportam". Agora, "era muito bom" que a Jornada Mundial da Juventude usasse a experiência dos escuteiros para proteger os jovens.
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A palavra "escuteiros" pontua todo o relatório da Comissão para os Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica. Ivo Faria, chefe do Corpo Nacional de Escutas (CNE) afirma, em entrevista à TSF, que colaborou nos trabalhos e comunicou 19 casos de abusos nos acampamentos. Sendo que "outros sete casos foram relatados à Comissão Independente", serão, assim, pelo menos 26 os abusadores detetados. Alguns há décadas, outros recentes.
Há pelo menos um chefe dos escuteiros condenado a pena de prisão preventiva por abuso sexual de menores. Ivo Faria afirma não ter detalhes dos andamentos dos casos que foram entregues à justiça, "mas haverá duas ou três situações que ainda estarão em investigação".
Todos os anos, desde 2019, o CNE faz um relatório com as queixas. "O deste ano (relativo a 2022) ainda não está fechado, tem cinco denúncias de abusos." Durante os anos da pandemia, "talvez porque houve menos atividades coletivas", não chegou qualquer denúncia aos escuteiros. Mas, no ano anterior, houve seis queixas.
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O chefe do CNE garante que, depois de uma primeira avaliação sobe a credibilidade da denúncia, "que infelizmente se confirma quase sempre", há também quase sempre uma suspensão imediata do voluntário suspeito e o caso é comunicado às autoridades. Às vítimas e aos familiares, o CNE disponibiliza apoio psicológico: "Temos uma rede nacional de psicólogos que pode responder consoante a zona do país onde os abusos ocorreram."
Desde 2016, a instituição começou a pôr em prática mecanismos de prevenção e denúncia. Além de exigir - como está na lei - um registo criminal "limpo" a todos os voluntários que entram para os escuteiros, estes passam também por um processo de formação.
Há um Manual de Boas Práticas - que pode consultar aqui - onde se proíbe, por exemplo, que os voluntários durmam na tenda dos menores, e um portal - https://ems.escutismo.pt - para receber queixas.
Mesmo assim, Ivo Faria assume que há vítimas que não denunciam o que lhes acontece: "Continua a apertar-nos o coração sabermos que há tantas vítimas que não reportam."
De qualquer forma, há um caminho já feito e outro que se faz todos os dias. Ivo faria gostaria que a organização da Jornada Mundial de Juventude, onde o CNE participa ativamente, "tomasse algumas medidas como as que nós adotámos", por exemplo, "proibindo que adultos e menores partilhem a mesma tenda ou pedir o registo criminal aos voluntários adultos".
Apesar do impacto que o assunto tem nos últimos anos nas instituições católicas, o CNE não nota um afastamento das famílias: "Continuam a confiar-nos os filhos." O número de elementos "caiu cerca de 20% no auge da pandemia, mas já estamos quase aos níveis de antes".
Entre "Lobitos" (dos seis aos dez anos), "Exploradores", (dos dez aos 14 anos) e "Pioneiros" (dos 14 aos 18 anos) são cerca de 50 mil os menores que fazem parte do Corpo Nacional de Escutas.