Coleção deixada por Sansão Vaz (Sává) conta perto de meio milhar de aparelhos de radiofonia antigos, dos anos 30 aos 60, de todo o mundo, incluindo rádios nazis, conhecidas por rádios “mordaça”
Corpo do artigo
A paixão de um antigo colecionador pela radiofonia poderá materializar-se num Museu da Rádio em Valença. A câmara local está a reabilitar um emblemático edifício na Fortaleza, a Casa das Varandas, para poder acolher perto de meio milhar de rádios antigos, deixados por Sansão Vaz (Sává), eletricista que reparava aparelhos em casa, e que ao fim de semana, animava bailes com os seus gira-discos e gravadores.
A coleção que criou ao longo de duas décadas, já depois de ser ter reformado, reúne exemplares dos anos 30 aos 60 do século passado, e de todo o mundo, incluindo rádios nazis, conhecidas por “rádios mordaça”.
Atualmente, parte do espólio - 134 rádios de um total de 483 - pode ser visitado numa exposição permanente, instalada numa sala do Arquivo Municipal de Valença, no interior da Fortaleza.
“É o núcleo museológico mais visitado em Valença”, afirma a museóloga da câmara, Isilda Salvador, referindo que os rádios de Sává, despertam a curiosidade de “jovens e menos jovens”. Porque “são objetos que são por si um contentor de informação que não existe. Hoje em dia, qualquer telemóvel tem sintonização rádio, mas ver estes rádios ao vivo tem um encanto incrível. Portanto, é uma exposição que atrai imediatamente. Basta abrir portas para termos a casa cheia”, considera.
A museóloga adianta que está programada a criação de um espaço museológico, para albergar toda a coleção deixada por Sává e que está à guarda da câmara de Valença, e que poderá incluir “um estúdio de rádio e serviços educativos”. “O edifício selecionado foi a Casa das Varandas, junto ao tribunal, um edifício emblemático e muito bonito”, indica, referindo que, de momento, decorre “uma intervenção geral na cobertura e exterior do imóvel” e “ainda está a ser feito o desenho do projeto museológico”.
“O museu era um gosto que o meu pai teria, porque gostava que as pessoas tivessem conhecimento, especialmente a gente nova, que não faz ideia de como é que isto funcionava”, refere Rosa Vaz, umas das quatro filhas de Sává, alcunha que o próprio eletricista adotou, juntando as primeiras sílabas do seu nome [Sa de Sansão e Va de Vaz] e fazia questão de usar “em tudo o que fazia”.
Na atual exposição, aberta ao público na fortaleza, os visitantes podem viajar pelo imaginário da rádio antiga, das válvulas, dos botões cromados, em caixas de madeira. Ali estão reunidas “relíquias” de todo o mundo, da Holanda, Alemanha, Canadá, aos Estados Unidos da América, Japão, Brasil e França.
“O meu pai tirou o curso de eletricista por correspondência e trabalhava numa fábrica em Valença, a “Pinta Amarela”, que pertencia a espanhóis. E, para poder criar as filhas, começou a reparar rádios em casa. Depois entusiasmou-se com um senhor que lhe levava aparelhos para arranjar e começou a comprar, a comprar, comprar…”, conta Rosa, recordando que aquilo que “no início não era uma coleção” acabou por se tornar o “precioso” legado de Sává que encanta visitantes e conta muito da História da rádio.
“Há dois anos no verão, visitou esta exposição o diretor do Museu da Rádio de Londres, que ficou encantado, comprou o catálogo porque está em português e em inglês, e ficou maravilhado com os exemplares ingleses que aqui estão. Disse que temos mais nós aqui, só nesta sala [na exposição no Arquivo Municipal], do que ele tem no museu londrino”, conclui a museóloga municipal de Valença.
