A apicultura na região caramulana está cada vez mais difícil. Um dos problemas é a vespa asiática ou velutina que chegou à serra há cinco anos e que veio tornar a atividade mais trabalhosa.
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"Está cada vez mais difícil tratar das abelhas". O desabafo é de Isidro Ferreira produtor de mel na Serra do Caramulo há oito anos. Filho de apicultor viveu toda a vida à volta das abelhas, uma espécie que é fundamental para o planeta devido à importância que tem no processo de polinização.
Em 2020, Isidro Ferreira perdeu uma centena de colmeias. Hoje tem umas 700 para extrair o designado ouro da montanha, o mel que é sobretudo de urze.
A apicultura na região caramulana está cada vez mais difícil. Um dos problemas é a vespa asiática ou velutina que chegou à serra há cinco anos e que veio tornar a atividade mais trabalhosa.
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"Nós adaptamo-nos às novas situações, mas é um problema que dá trabalho para resolver. Temos que estimular mais as abelhas, que as alimentar, reduzir entradas. Dá mais trabalho tratar de uma colmeia agora com a vespa velutina", refere.
As alterações climáticas também vieram complicar tudo, assim como os incêndios de outubro de 2017. As chamas destruíram 1500 colmeias de Isidro. Apesar do prejuízo de 10 mil euros, o apicultor nunca baixou os braços até porque, acredita, as maiores perdas foram registadas pela floresta. Ainda hoje o impacto do fogo está presente.
"O problema maior foi a flora que se perdeu e agora no pós-incêndio o que vemos é a predominância da giesta, os eucaliptos a nascerem como cogumelos. Não é isso queremos, queremos a floresta mediterrânica, à base de urzes, mato", explica.
Com a pandemia, o produtor de mel sentiu uma maior procura por parte das pessoas pelo "ouro da montanha", mas também pelos seus derivados, como a própolis, o pólen e a geleia real.
"A própolis é um antibiótico natural, é o único antibiótico natural poderoso, que teve uma procura de 600 por cento", adianta, acrescentando que por causa da Covid-19 o público começou "a preocupar-se mais com o reforço do sistema imunitário".
Apesar da procura elevada, os apicultores não passaram a ganhar mais dinheiro em resultado das vendas destes derivados do mel.
No Caramulo são produzidas por ano cerca de 40 toneladas de mel pelos cerca de 150 produtores existentes na serra. O ano passado registou-se uma quebra de 70 por cento. Este ano, quem se dedica à apicultura diz que ainda é cedo para falar sobre a campanha, mas todos esperam que 2021 não seja um ano tão trágico como 2020.
Apiturismo para dar mais vida ao Caramulo
Isidro Ferreira não se dedica apenas às abelhas. O apicultor vai também abrir, em conjunto com a irmã, um negócio ligado ao apiturismo, o turismo ligado à apicultura que está a dar os primeiros passos no país.
"É um projeto inovador em Portugal. É o primeiro projeto de apiturismo em Portugal", realça, salientando que o carácter inovador foi também valorizado na candidatura que submeteu. O investimento de mais de 300 mil euros deve estar concluído em julho.
No centro da vila do Caramulo, o produtor de mel está a acabar de construir um alojamento de charme, com alguns quartos, onde cada um tem uma decoração diferente e sempre ligada ao mundo apícola. No rés-do-chão vai funcionar uma pequena loja.
Para além deste espaço, vão ser também promovidas atividades ligadas às abelhas, dando a oportunidade às pessoas de derem apicultoras por um dia.
"Temos uma melaria, onde fazemos extração de mel, onde as pessoas podem participar na extração de mel, ver o seu processo. Podem ainda fazer um percurso pedestre pelos apiários", afirma.
O público parece estar interessado neste tipo de produto turístico, "ainda para mais agora com o confinamento e a pandemia".
"Fazer um projeto destes, numa altura destas é de loucos, mas realmente acreditamos nisto porque senão já tínhamos abandonado", sustenta, defendendo ao mesmo tempo que o potencial turístico do Caramulo está ainda por explorar.
"Vemos muitos sítios, com menos potencial do que o caramulo e tem muito mais oferta turística e nós aqui está tudo por fazer. Está assim um bocado abandonado", lamenta.